Nada em comum têm os seus percursos, se se descontar o fôlego transcendente que insufla muitas das suas obras, transfigurando-as em particulares formas de iluminação para quem as contempla. Mas, celebrando os 25 anos de abertura ao público do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, a exposição Brincar Diante de Deus. Arte e Liturgia: Matisse, Vieira da Silva e Lourdes Castro cria, como um ato de fé, uma ligação: estas são obras de artistas criadas para integrar espaços religiosos ou para usar durante o culto (ou seja, para servir um propósito religioso).
A relação entre arte e religião é ancestral, já se sabe: das grandes encomendas históricas específicas para as igrejas (Miguel Ângelo, pois claro) às interpretações contemporâneas (ainda?) subversivas (lembre-se, por exemplo, o Papa João Paulo II tombado por um meteoro, da autoria de Maurizio Cattelan). Se a apresentação desta mostra questiona a separação entre arte e religião no século XX tida por certa, logo levanta outras questões. As obras de arte têm função? A liturgia religiosa é uma forma de performance? A arte é uma liturgia?…
As respostas são tão singulares como estas obras: os paramentos criados pela artista das silhuetas, Lourdes Castro, nunca antes expostos, idealizados para a capela Árvore da Vida do seminário de Braga (2012-2015); as imagens dos vitrais projetados por Vieira da Silva para a Igreja de Saint-Jacques de Reims em 1966, assim como os seus painéis para a sacristia da capela do Palácio do Marquês de Abrantes, em Lisboa (produzidos de 1982 a 1986); as vestes litúrgicas realizadas por Matisse para a Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Vence (datadas de 1949 a 1951), devedoras da sua pintura em recortes e nas suas cores celebratórias.
Brincar Diante de Deus, Arte e Liturgia: Matisse, Vieira da Silva e Lourdes Castro > Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 58, Lisboa > T. 21 388 0044 > 4 jul-27 out, ter-dom 10h-18h > €5