High Life está mais próximo de Stanley Kubrick (2001 Odisseia no Espaço) do que de Andrei Tarkovsky (Solaris), mas comunga de uma mesma perspetiva filosófica e desencantada do Espaço. Há muito tempo que não víamos um filme de ficção científica tão desconcertante e, ao mesmo tempo, tão simples, que faz de um microcosmos formal e social todo o seu universo. Tal como em 2001, a ação decorre num ambiente fechado, na solidão de uma nave deambulante num espaço sem fim. Aqueles que ali estão são condenados à pena de morte inscritos num programa de experiência reprodutiva espacial; são cobaias e casos de estudo, que se dirigem para um buraco negro.
O próprio filme funciona, até certo ponto, como uma experiência sociológica fora de órbita, com a ambição de compreender melhor o comportamento e a natureza humana. A história, simultaneamente tranquila e violenta, é contada de forma pouco convencional, com avanços e recuos no tempo. No início, encontramos o astronauta, solitário e metódico, a criar a filha recém-nascida. Eles são os últimos homens daquele mundo – e talvez de todos os outros. Em analepse, conta-se a história do resto da tripulação, de tudo o que correu mal.
High Life é um filme sobre a luta pela sobrevivência, explorando as fraquezas humanas e questionando o próprio Homem, enquanto espécie; há uma linha da Humanidade que conduz àquele ponto, àqueles novos Adão e Eva. É, pois, surpreendente este primeiro filme de ficção científica de Claire Denis, que também é a sua obra de estreia falada em inglês, disposta a atingir um público mais vasto. Juliette Binoche e Robert Pattinson fazem grandes papéis. E tudo isto ainda é enriquecido pela banda sonora de Stuart Staples (dos Tindersticks).
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High Life > De Claire Denis, com Robert Pattinson, Juliette Binoche, André Benjamin > 113 minutos