Pode-se-lhe colocar o rótulo de thriller psicológico, entre a urbe e a favela, na problemática cidade do Rio de Janeiro. Mas Praça Paris é sobretudo uma subtil metáfora sobre a incapacidade de comunicação entre mundos, na radicalmente assimétrica sociedade brasileira contemporânea. E sobre o socalco que existe entre a teoria e a prática.
De um lado, temos Camila (Joana de Verona), uma jovem psicóloga portuguesa, cheia de boas intenções, com ganas de melhorar o mundo em redor. Parte de uma posição de superioridade. Ela tem os conhecimentos técnicos e científicos, o domínio psicológico. Vive do lado de cima da sociedade, do lado das oportunidades. Contudo, é generosa e empenhada, com a frescura académica.
Do outro lado, aparece Glória (Grace Passô), sua paciente, irmã de um temível criminoso, que Camila tenta resgatar do submundo. É pobre, vivida, com a escola da favela e todos os seus dramas. A argumentação empenhada de Camila, por vezes com grande veemência, vai, lentamente, alcançando frutos, mexendo sobretudo com a confiança e a esperança.
Glória, ao princípio renitente, acaba por agarrar a mão que a puxa e a ajuda a querer mudar de vida. Só que, no momento em que tenta fazê-lo, a mão começa a esquivar-se. Camila não aguenta o embate com a realidade e cede ao medo e à paranoia. Como que se invertem os papéis: a superioridade psicológica passa para o outro lado. Onde havia coragem há cobardia, e vice-versa. Glória não se torna propriamente uma stalker, mas Camila age como se ela o fosse. Até ao mais aterrador desespero. No fundo do túnel, afinal, não há uma luz e as balas resvalam sempre para o mesmo lado.
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Praça Paris > De Lúcia Murat, com Grace Passô e Joana de Verona > 110 minutos