O turismo está na ordem do dia. Em 2017, Portugal foi eleito Melhor Destino Turístico do Mundo nos World Travel Awards. Diariamente, “ouvimos falar dos efeitos positivos do turismo, do processo de gentrificação e de identificação das cidades”, constata José Bártolo, curador, juntamente com Sara Pinheiro, da exposição Portugal Imaginário – Turismo, Propaganda e Poder que inaugura esta quarta, 18, na Casa do Design, em Matosinhos, e ali pode ser vista até 1 de setembro. Uma altura pertinente, acredita o curador e diretor da ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, para organizar “uma exposição que construa uma interpretação do fenómeno turístico”. São de José Bártolo, aliás, muitos dos documentos, folhetos e revistas desta mostra, que inclui coleções de particulares, da Biblioteca Silva e da autarquia de Matosinhos.
É, sobretudo, uma exposição documental que traça a evolução do turismo no nosso País desde o final do século XIX até ao início da década 70, percorrendo, ao mesmo tempo, o regime político de António de Oliveira Salazar. Está lá uma das primeiras publicações turísticas: o guia As Praias de Portugal – Guia do Banhista e do Viajante, de Ramalho Ortigão (1876), e muito do que foi sendo publicado a partir da Sociedade de Propaganda de Portugal (1906-1911) e décadas posteriores.
Há guias, mapas de cidades, publicações em vários idiomas, edições preparatórias para os pavilhões de Portugal nas exposições de Paris (1937) e ou de Nova Iorque (1939), objetos de arte popular, material para a Exposição do Mundo Português (1940), em Lisboa, com a influência de António Ferro – diretor do Secretariado de Propaganda Nacional e responsável pela Campanha do Bom Gosto que apresentava um país civilizado. E ainda exemplares da revista portuguesa de arte e turismo Panorama, assim como caixas de fósforos da Fosforeira Portuguesa e sabonetes da Confiança – o primeiro merchandising de um País,
Uma imagem gráfica, porém, que nada tinha a ver com o País da época: “pobre, sujo, fechado e atrasado”. Ao contrário dos cartazes da propaganda em que “aparecia soalheiro, moderno e civilizado”. “A ideia deste ‘Portugal Imaginário’ tem a ver com aquilo que é promovido pela propaganda. Não era o país real”, ressalva José Bártolo. “A orientação de António Ferro queria levar a arte popular portuguesa a exposições internacionais, mas era uma criação artística, uma mera invenção.”
O documentário de António Lopes Ribeiro sobre a Grande Exposição do Mundo Português é ainda exibido nesta mostra que nos confronta, pois, com a imagem ficcionada de um Portugal do tempo da ditadura, também do ponto de vista estético.
Portugal Imaginário – Turismo, Propaganda e Poder (1910-1970) > 18 abr-1 set > Casa do Design, R. Alfredo Cunha, 15, Matosinhos > seg-sex 9h-12h30, 14h-17h30, sáb 15h-18h > grátis