Alcançar a 30ª edição é uma prova da longevidade e da resiliência do teatro no território. Mas os Festivais Gil Vicente, em Guimarães, querem ter os olhos postos no futuro, insistindo no apoio às novas dramaturgias e à criação nacional. “Quisemos construir um elenco de espetáculos assente em temáticas atuais, sejam as minorias fora do sistema, as novas geografias ou as questões da identidade”, adianta Rui Torrinha, responsável pela direção artística.
Na primeira semana, os espetáculos irão concentrar-se no Centro Cultural Vila Flor. Para o início, nesta quinta-feira, 1, haverá uma estreia, Geocide, da Estrutura (grupo liderado por Cátia Pinheiro e José Nunes), uma das coproduções do festival. O espetáculo, que conta com a colaboração dramatúrgica de Rogério Nuno Costa, “aborda os temas da mobilidade demográfica, das narrativas distópicas, das visões de futuro apocalípticas, da biopolítica e, consequentemente, da geopolítica”. Segue-se, na sexta, 2, Despertar da Primavera, uma tragédia de juventude, do Teatro Praga, uma releitura da peça de Frank Wedekind, expoente do expressionismo lírico, optando a companhia por se focar na repressão sofrida pelas identidades alternativas, encaixadas no termo queer. A primeira metade do programa termina, no sábado, 3, com Os Pescadores, de João Sousa Cardoso, assinalando também os 150 anos do nascimento de Raul Brandão.
Na segunda semana, o festival afasta-se dos auditórios convencionais. “São espetáculos mais imersivos, por isso queríamos gerar uma maior proximidade entre o público e os artistas”, sublinha Rui Torrinha. A Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade acolhe, no dia 8, Henrique IV parte 3, a estreia do escritor e dramaturgo Jacinto Lucas Pires como encenador, que, além de raptar a personagem de Falstaff ao original de Shakespeare, cruza o seu texto com excertos de Henrique IV partes 1 e 2.
No dia 9, é a vez do Teatro da Garagem estrear Ela Diz, na Black Box do Espaço Oficina, uma performance multimédia que narra o conflito entre mãe e filha. A edição termina, nos dias 10 e 11, com a apresentação da nova produção do Teatro Oficina, Álbum de Família, no pátio da Casa da Memória de Guimarães. Um espetáculo visual, inspirado no espólio de fotografias d’ A Muralha – Associação de Guimarães para a Defesa do Património, que conta com a participação dos alunos das oficinas da companhia residente, explorando o fortíssimo sentimento de pertença da comunidade vimaranense.
Este ano, no âmbito das atividades paralelas, o Teatro Oficina lançou pela primeira vez uma convocatória aos artistas de artes performativas nascidos ou criados em Guimarães, numa tentativa de os mapear e de os envolver em projetos futuros. O grupo formado, intitulado o Gangue de Guimarães, irá participar numa residência artística e numa oficina de dramaturgia conduzida por José Maria Vieira Mendes. No dia 10, haverá uma apresentação final dos projetos desenvolvidos durante estas duas semanas de trabalho intensivo. Segundo Rui Torrinha, “ao articularmos estas ações, podemos criar uma força maior e empoderar o território”. Estará a força com Guimarães?
Centro Cultural Vila Flor > Av. D. Afonso Henriques, 701, Guimarães > T. 253 424 700 > 1-11 jun > €5 a €7,50, assinatura €25