Nas décadas de 70 e 80 do século passado, assistir a um espetáculo de teatro em Vila Nova de Famalicão era um acontecimento raro. As iniciativas da Associação Teatro Construção (ATC), na freguesia de Joane, eram as honrosas exceções. Ao seu festival chegavam companhias como O Bando, A Barraca, o Teatro Experimental de Cascais, a Seiva Trupe e muitos outros. Espetáculos como Mário Gin Tónico, com um brilhante Mário Viegas, ou Calamity Jane, numa interpretação sublime de Maria do Céu Guerra, deixaram marcas profundas no público, entre o riso e as lágrimas. O primeiro Territórios Dramáticos, cujo início está marcado esta sexta-feira, 17, quer honrar esse passado. Organizado pelo Teatro da Didascália, sedeado em Joane desde 2008, o encontro pretende “falar e refletir sobre um território com um passado fortemente ligado ao teatro, e a partir dele, conhecer e pensar outros projetos enraizados noutros territórios”, adianta Bruno Martins, diretor da companhia.
“Foi aqui que comecei a ver teatro, numa espécie de black box, e foi algo de muito especial”, recorda o ator e encenador. “Chegavam companhias de todo o lado, com novos olhares e vivências e este contacto com os artistas era algo que rompia totalmente com o quotidiano desta pequena vila.” Hoje, o acesso ao teatro é certamente mais fácil, mas interessava-lhes refletir sobre a forma como estas experiências teatrais mexeram com a comunidade. A escolha das companhias e dos espetáculos apresentados no encontro explora igualmente uma série de afinidades, seja do campo artístico ou do contexto em que estão inseridas.
Na primeira edição do Territórios Dramáticos subirão ao palco do Centro Cultural da Juventude de Joane (pertencente à ATC), durante a primeira semana, o Teatro Experimental do Porto, com Casa Vaga (sex, 17), o Algures, Coletivo de Criação, com Levantado do Chão (sáb, 18) e a companhia da casa, com Guarda Mundos, um espetáculo para toda a família. Na semana seguinte, chega a ESTE – Estação Teatral da Beira Interior, com Bamba Vamba Wamba (dia 24), a d’Orfeu, com Repertório Osório (dia 25) e o Peripécia Teatro, com A Cores (dia 26), outro espetáculo para os mais novos.
No final das apresentações, tal como acontecia noutros tempos, o público e os artistas são convidados a sentarem-se à mesma mesa, no Cear e Falar. Para alimentar (e desbloquear) as conversas sobre a forma como desenvolvem o seu trabalho e se envolvem com as comunidades, as companhias convidadas trazem uma especialidade gastronómica da sua região para casar com um copo de vinho verde da localidade minhota. Do programa consta ainda a exibição de dois filmes, com entrada gratuita, que têm como ponto de partida o teatro: Até ao Canto do Galo, de Ramón de Los Santos, sobre o processo de criação da companhia Peripécia Teatro, e Amar, Beber e Cantar, de Alain Resnais.
Territórios Dramáticos > Centro Cultural da Juventude de Joane > R. Barão de Joane, 274, Joane, V.N. Famalicão > T. 252 311 317 > 17-26 mar, sex-sáb 21h30, dom 16h > espetáculos €4, sessões de cinema grátis