Dispostos em círculo, os quatro bailarinos (Melissa Ugolíni, Marie Khatib-Shahidi, Sérgio Noé Quintela e Rosana Ribeiro) mexem todos os músculos seguindo uma coreografia ondulante, quase hipnótica. Individualmente e em conjunto, estes corpos pardos formam uma espiral em movimento perpétuo, com pequenas distorções a introduzir variações no padrão. Leve, como uma árvore ao vento que nunca se quebra. No palco, as luzes irão jogar com a perceção do público, entre aquilo que se assiste e aquilo que se julga ver através da penumbra (afinal, como diz o provérbio, à noite todos os gatos são pardos). A convite da Companhia Instável, Laurence Yadi e Nicolas Cantillon (diretores da suíça Cie. 7273) regressam a Portugal e desenvolvem uma nova criação (durante a residência no Teatro Municipal do Porto), a partir do FuittFuitt, o método de que são autores, inspirado no sistema melódico maqan, originário do Médio Oriente. Nesta peça, contam com música original do egípcio Maurice Louca, com outras influências, desenvolvida em grande parte ao longo dos ensaios.
“Com a música ocidental não conseguimos encontrar uma forma de dançar e, ao ouvirmos o maqan [presente em vários países muçulmanos], tivemos uma revelação”, conta Nicolas. Os seus quartos de tom permitem-lhes brincar com as notas e dar uma maior liberdade ao intérprete para se entregar a uma espécie de transe, com pouco de místico. Soufi-groovy é o nome do estilo e todo ele é uma apologia do prazer de dançar. “A criação coreográfica pode ser algo dura, mas quando vou para o estúdio, prefiro o sol”, sublinha Laurence. A ausência de narrativa nas criações da dupla é, por si só, um discurso. Como se quisessem reforçar o poder da libertação de um corpo em movimento. “Tentamos partilhar essa alegria de trabalhar o corpo com o público”, diz Nicolas. “Suamos por eles”. E não param, existindo uma cadeia de relações entre cada coreografia
La Nuit Tous Les Chats Sont Gris > Culturgest > R. Arco do Cego, Lisboa > T. 21 790 5155 > 24-25 fev, sex-sáb 21h30 > €13