Depois do verão, na marginal de Matosinhos, há de ser inaugurada uma escultura de Passos Manuel, o único primeiro-ministro natural de Matosinhos, da autoria de Julião Sarmento. Foi esta peça o ponto de partida para a exposição No fio da respiração, que serve agora de introdução ao trabalho de um dos mais notáveis artistas contemporâneos. A mostra atravessa quatro décadas (de 1966 a 2011), através de mais de duas dezenas de obras, e foi inaugurada na sexta-feira, 22, na Galeria Municipal de Matosinhos.
Em três salas, o curador Miguel von Hafe Pérez tentou desenhar “um percurso que dê a entender algumas das preocupações fundamentais de Julião Sarmento”, explica. Como o corpo feminino, fator recorrente no seu trabalho. São 26 obras de pintura, desenho e escultura – há mesmo dois desenhos e uma colagem, de 1966, nunca mostrados ao público, e que surgem três anos depois da maior retrospetiva feita do artista em Serralves
“É uma releitura do modo como Julião Sarmento acaba por retratar a realidade numa dimensão com referências à literatura e cinema modernos, com elementos do quotidiano que servem para debater questões como o sexo, o voyeurismo e o fetichismo”, refere Miguel von Hafe Pérez. “Os seus trabalhos acabam por refletir muito da condição humana” e, de uma certa maneira, são também “uma forma de pensar sobre a morte”, acrescenta. Caberá ao público perceber o diálogo que estas obras estabelecem nestas três salas desenhadas pelo curador. São “corpos sem rosto” que “pressupõem a presença de um outro – agente, testemunha, cúmplice ou espectador involuntário”, realça. Está lá “a tensão entre o êxtase e o sofrimento, o júbilo e a dor, a ameaça e o convite”, descreve ainda Miguel von Hafe Pérez.
No fio da respiração > Galeria Municipal > Av. D. Afonso Henriques, Matosinhos > T. 22 939 0900 > 22 jul-15 out, seg-sex 9h-12h30, 14h-17h30, sáb, fer 15h-18h > grátis