Um novo começo, tanto pessoal como musical, assim pode definir-se o novo disco de Anohni, que o público se habituou a conhecer como Antony Hegarty e celebrizou como a voz do projeto Antony & the Johnsons. Uma voz rara e única, que deixava o público confuso, por ser de homem, mas que soa igualmente rara e única, agora que assumiu de vez a sua condição feminina. Mas que importa o género perante o génio? É a questão, meramente lateral, que se deve colocar neste caso. Muito mais que um músico, Anohni é hoje um ativista da condição humana, independentemente do sexo – dele, de quem o ouve e do que canta. E a música é a sua arma, como se comprova em Hopelessness, um álbum assumidamente político, de revolta, que marca também uma nova fase na sua carreira. Para trás parecem ter ficado de vez as sonoridades etéreas e orquestrais, embaladas pelas teclas do piano, que sempre caracterizarem a sua música. Embora sem nunca perder o norte da pop, a voz de Anohni apresenta-se agora envolvida pelas batidas incisivas desenhadas pela dupla composta pelo americano Oneohtrix Point Never e o escocês Hudson Mohawke, os dois gurus da eletrónica underground que chamou para companheiros de estrada nesta nova aventura, na qual canta, com a sua voz celestial e num ritmo dançante, os temas mais fraturantes da condição humana e da sociedade.
Anohni fez história no início deste ano, ao ser o primeiro artista transgénero nomeado para um Oscar, na categoria de Melhor Canção Original, com o tema Manta Ray, integrado na banda-sonora do documentário Racing Extinction. Mas também por se ter recusado a ir à cerimónia, depois de ter percebido que, ao contrário do que é habitual, não seria convidado para atuar na mesma
Coliseu do Porto > R. de Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940 > 21 jun, ter 21h30 > €25 a €45
Coliseu dos Recreios > R. Portas de Santo Antão, 96, Lisboa > T. 21 324 0580 > 22 jun, qua 21h30 > €35 a €55