Não se pode dizer que esteja a ser um crescimento traumatizante para o Porto/Post/Doc. A não ser que acentuemos as dificuldades na seleção dos filmes a exibir, referidas por Dario Oliveira, da direção do Festival Internacional de Documentário e Cinema do Real do Porto, durante a apresentação da programação. Neste segundo ano de existência, foram recebidas candidaturas de mais de 400 filmes (o dobro de 2014), sendo que apenas 12 foram escolhidos para a secção competitiva. No total, entre esta terça-feira, 1, e o próximo dia 8, serão exibidos 66 filmes oriundos de 26 países (da Islândia ao Camboja) em três salas do Porto (Rivoli, Maus Hábitos e Passos Manuel), realçando-se o facto de 44 serem estreias nacionais e 11 estreias mundiais.
Apesar de as salas de cinema serem uma espécie em via de extinção no centro do Porto – “estamos a tentar preencher essa lacuna”, admitia o presidente da câmara Rui Moreira, também na apresentação –, ainda há um público que teima em não desistir da grande tela. “Na primeira edição tivemos uma média de 100 espectadores por sessão, o que é um bom resultado”, diz Dario. No Porto/Post/Doc, haverá em média oito sessões por dia.
Na competição internacional é notória a diversidade de abordagens do documentário contemporâneo e a sua contaminação pela ficção. Foram privilegiadas obras de jovens realizadores, que já passaram por festivais de renome, havendo no total nove estreias nacionais e uma mundial.
Concentremo-nos agora no tema desta edição, com filmes relacionados com o instável e complexo universo da adolescência, embrião de novas tendências. Entre eles, será exibido na cerimónia de abertura, dia 1, terça-feira, às 22 horas, The Wolfpack, vencedor no festival de Sundance, que retrata um grupo de miúdos cujos pais nunca os deixaram sair de suas casas, no centro de Nova Iorque, e que conhecem o mundo através de um ecrã de televisão.
Outros focos estarão apontados a realizadores. É o caso do americano Thom Andersen (que já esteve no Porto a realizar um filme sobre o arquiteto Eduardo Souto Moura), com uma compilação das suas obras mais significativas, normalmente sobre o cinema e a forma como altera a nossa perceção da realidade. Do cineasta Lionel Rogosin, um dos nomes do movimento underground americano, serão exibidos dois trabalhos: On the Bowery e Come Back, Africa. Também será assinalado o percurso singular da belga Chantal Akerman, desaparecida recentemente, com a mostra de dois dos seus filmes (inclusive o último, No Home Movie) e de um documentário sobre a sua obra.
O Fórum do Real, que na primeira edição teve grande sucesso entre o público cinéfilo universitário, traz um programa de conferências com cineastas, programadores, curadores, académicos e artistas. Na sedxta-feira, 4, irá debater-se o tema Documentar o Imaginário.
Entre as demais seções e categorias, a Cinefiesta dedica-se ao melhor do cinema documental espanhol (a não perder, os novos filmes de Sérgio Oksman, José Luís Guérin e Lois Patiño), enquanto Transmission explora a relação entre cinema e música com a exibição de concertos e documentários (saliente-se os dedicados a Keith Richards e aos Blur). Também Cinema Falado vai exibir três filmes portugueses em estreia nacional (de Pedro Neves, Daniel Blaufuks e Tiago Afonso), com várias temáticas, e O Porto da Minha Infância, no contexto da exibição da obra completa de Manoel de Oliveira no Porto. O programador Dennis Lim e o festival Les Rencontres Internationales terão ainda Carta Branca para fazer uma seleção que se espera de excelência. Resta referir o SchoolTrip, o serviço educativo do Porto/Post/Doc, que irá apresentar uma exposição de fotografia e documentários produzidos por alunos da Escola Soares dos Reis, realizar masterclasses, além de manter um júri constituído por 12 alunos de quatro escolas do Porto, que irá atribuir um prémio ao seu filme favorito. Alfabetizar e educar para e pelo cinema é o mote. A esperança, acentuou Dario Oliveira, é que “o Porto também possa ser uma cidade do cinema”. O Porto/Post/Doc deixará o seu contributo.
Porto/Post/Doc >Teatro Municipal Rivoli, Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > Passos Manuel > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 203 4121 > Espaço Maus Hábitos > R. Passos Manuel, 178, Porto > T. 22 208 7268 > 1-8 dez > €4 (por sessão), €20 (cartão aderente, com direito a 10 sessões)