Se há histórias bizarras em Lisboa é a do Forte de Santa Apolónia, também conhecido como Baluarte de Santa Apolónia ou Bateria do Manique, por se situar no interior da quinta que pertenceu ao visconde de Manique. Quando olhamos para o que dele resta – um pedaço de muralha de alvenaria, com cunhais de cantaria de calcário e bases de duas guaritas, entre a rua que leva o seu nome e a Calçada das Lajes – é-nos difícil imaginar que foi planeado para fazer parte da linha de defesa da cidade, na longínqua segunda metade do século XVII.
A principal culpa é do Concorde, um prédio com 14 andares inusitadamente erguido no seu interior, nos anos 80. Logo a seguir, vêm as hortas sociais geridas pela Câmara que deitaram por terra o caráter militar da construção. Mas, se recuarmos mais umas décadas, ficamos a saber que o dito visconde chegou a mandar acrescentar-lhe dois portões e que a estrutura pertenceu mais tarde ao industrial inglês George Alexander Hall, dono da fábrica de bebidas gasosas que produzia os famosos e saudosos pirolitos.
Nunca concluído, o forte está classificado como imóvel de interesse público desde 1996. Dois anos depois, uma exposição mundial haveria de dar fama à zona oriental da cidade, agora e talvez para sempre debaixo d’olho dos lisboetas.