No Jardim Mário Soares, em Lisboa, resultado da requalificação da zona Sul do Campo Grande, todos os caminhos vão dar a uma novidade. Há os percursos curvilíneos que atravessam os lagos, os parques infantis, agora ampliados e com novas brincadeiras, os bancos que convidam a paragens demoradas ou o imponente quiosque encarnado que aguarda uma esplanada. “Passou a ser um lugar onde se pode estar,” resume José Sá Fernandes, vereador da Estrutura Verde e Energia da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que tinha neste projeto um objetivo antigo. “Era um dos últimos espaços verdes que nos faltavam recuperar em Lisboa.”
Simbolicamente inaugurado no passado dia 25 de abril, o Jardim Mário Soares é uma homenagem da cidade ao antigo Presidente da República, que ali passeava tantas vezes com o pai e mais tarde com os filhos, levados pela mão nas tardes de domingo. Quem explorar os diferentes caminhos entre as árvores e a relva encontrará várias referências à vida de Soares, que morreu em janeiro de 2017, como um memorial onde se lê uma biografia, que relata as suas principais conquistas, ou um speaker’s corner, que incentiva ao debate de ideias entre cidadãos, construído em frente à rua do Colégio Moderno e à casa onde Mário Soares sempre morou. O projeto da CML contou, assim, com a colaboração da família Soares, do amigo José Manuel dos Santos e do designer Henrique Cayatte.
Em linha com o que aconteceu na zona Norte do Campo Grande, com a construção de novas áreas desportivas ou as obras no Edifício Caleidoscópio, as principais prioridades passaram pela requalificação. José Sá Fernandes explica à VISÃO Se7e que “todo o jardim estava muito degradado, da piscina aos caminhos; o aproveitamento da água não era bem-feito, a vegetação já não estava em boas condições”. Com um orçamento de cerca de 1,2 milhões de euros, quiseram-se alargar os espaços para os visitantes, instalar sistemas de rega inteligente e de iluminação noturna, renovar pavimentos, pistas de bicicleta e mobiliário urbano, plantar verdes e pensar uma zona onde se pudesse estar e tomar um café. “Agora, é só esperar que a relva comece a crescer”, remata o vereador.
Palmeiras e cicadáceas
Na outra ponta da cidade, escondido entre os prédios coloridos do Príncipe Real, também o Jardim Botânico de Lisboa reabriu mais verde, mais sustentável e com vontade de receber melhor os seus visitantes, como avança José Pedro Sousa Dias, diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. São quatro hectares de palmeiras, cicadáceas e muitas espécies raras, vindas de países como a Nova Zelândia, Austrália, China e o Japão, cada uma com segredos e histórias. Logo à entrada, que ganhou novas plantas e cores, há também outros pavimentos e gradeamentos, bancos reconstruídos e pintados, bebedouros aqui e ali. A sustentabilidade era uma das prioridades, por isso a reparação do sistema de rega, agora independente do sistema de águas urbanas, terá um grande impacto no ambiente e nos custos. Fez-se ainda a instalação de novas redes no subsolo, elétricas e não só, que permitirão iluminar o jardim e ter wi-fi em toda a área.
“Outra grande novidade é o anfiteatro no arboreto”, continua José Pedro Sousa Dias, que terá uma programação própria virada para a cultura e a cidade. “Há ainda o lago de baixo, que continua em reparação e que, por isso, ainda está vazio.” O diretor mostra-nos um dos novos caminhos que dará acesso a uma esplanada, em fase de concurso, cujos responsáveis também tomarão conta da cafetaria do museu. As mudanças ocorreram a pensar no futuro do Jardim Botânico, que faz parte do Museu de História Natural e da Ciência, cujo rico programa de iniciativas e de exposições se mantém (inclui visitas ao laboratório do século XIX). Tal como sublinha Raquel Barata, botânica e responsável pelo serviço educativo, o Jardim Botânico, fundado em 1878, no antigo Colégio dos Nobres, e classificado como monumento nacional em 2010, sempre teve uma base científica e de ensino. Afinal, são 140 anos de História que se contam num só jardim.
Jardim Mário Soares > Campo Grande, Lisboa > 24 horas > Jardim Botânico de Lisboa > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 21 796 7624 > ter-dom 9h-20h