Para nos aventurarmos por estes trilhos adentro, não é preciso nenhum equipamento especial, aconselha-se apenas calçado confortável, já que o piso é de terra batida. Avançamos sem medo, não há ruídos esquisitos a desviar a nossa atenção, apenas o barulho dos pássaros e das passadas firmes que hão de levar-nos aos dinossauros. Estamos no Dino Parque, fizemo-nos à estrada até à região Oeste, onde a Lourinhã reserva para si o título de capital dos dinossauros, por ser um dos locais paleontológicos mais ricos do mundo – sim, do mundo (já lá vamos).
Trata-se de um legado histórico com milhões de anos que agora o novo Dino Parque, aberto ao público em fevereiro, quer revelar. No edifício principal, por onde se faz a entrada para o parque, os funcionários – que, aquando da visita da VISÃO Se7e a uma semana da inauguração, davam os últimos retoques na loja e na cafetaria – andavam num vaivém, o que não nos impede de reparar num pormenor. Através do vidro da porta que dá acesso à zona ao ar livre vê-se o que parece ser um bico de dimensão considerável. O que será?
O suspense há de ser quebrado assim que o diretor do Dino Parque, Luís Rocha, nos abre as portas para o exterior e surge-nos, no meio de uma rotunda relvada com lagos à volta, o gigante e colorido Quetzalcoatlus, um pterossauro que, apesar de próximo, não é ainda um dinossauro. Começa aqui a aventura no Dino Parque. “Somos um museu ao ar livre, onde há diversão mas também muita coisa para aprender”, diz Luís Rocha, apontando para o painel cronológico de grandes dimensões onde estão explicadas as várias épocas, que vão desde o Big Bang aos nossos dias, passando, claro, pelo Triásico, Jurássico e Cretácico.
Quatro trilhos no pinhal
A partir deste ponto, a nossa visita é guiada pelo paleontólogo Simão Mateus, diretor científico do Dino Parque. “Agora é que vamos entrar no nosso Parque Jurássico. Nem nos faltam os portões feitos de troncos de madeira”, brinca. Já no interior deste museu ao ar livre, um dos maiores parques temáticos de dinossauros da Europa, alcança-se uma nova rotunda com água e mais alguns habitantes, entre os quais um cabeçudo Baryonyx. É daqui que saem os quatro trilhos do parque. O percurso deve ser iniciado pelo trilho da esquerda, o do Paleozoico, antes dos dinossauros, e depois seguir para o Triásico, Jurássico e Cretácico. Os maiores são os do Jurássico e do Cretácico: 550 metros e 650 metros de comprimento, respetivamente. As duas épocas anteriores têm cada uma 250 metros para percorrer. No total, é possível andar 2,5 quilómetros por trilhos e caminhos, num pinhal de dez hectares. “Para nós, o percurso mais importante é o do Jurássico, porque corresponde ao dos dinossauros da Lourinhã. Cerca de 12 espécies que existiram em Portugal”, explica Simão, com visível orgulho. E por isso a vila é um dos locais mais ricos do mundo.
É percorrendo estes trilhos que se percebe melhor o que é o Dino Parque: 120 réplicas de dinossauros à escala real, distribuídas entre as árvores e com alguma vegetação, ou então pelos próprios trilhos sobre a areia. Os dinossauros estão, diga-se, à mão de semear, ou seja, miúdos (e graúdos!) vão poder tocar-lhes. Apesar de estáticos, os modelos – feitos de resina, fibra, esferovite e estruturas de ferro – estão tão perfeitos que parecem mesmo ter movimento e expressões reais. É preciso, por isso, ir de olhos bem abertos; há muito para assimilar enquanto se caminha. “Nem todos os dinossauros estão sozinhos”, alerta Simão Mateus. É verdade, não pode olhar-se só para cima, para a imponência destes bichos, digamos. É preciso olhar em redor, onde também se passa muita coisa: veem-se espécies mais pequenas, juvenis, ninhos e, em alguns casos, somos até surpreendidos por situações encenadas com mais do que um ou dois dinossauros. “Também temos cenas de caça, por exemplo, pois a exposição tenta recriar várias situações da vida destas espécies”, continua o diretor científico.
À procura do ‘T.rex’
Passo a passo, no trilho do Jurássico, vamos descobrindo o lagarto telhas, batizado de Stegosaurus, um dos mais facilmente reconhecíveis por causa das placas que tem ao longo das costas e dos espinhos na ponta da cauda. O pequeno saurópode Europasaurus também lá está. Era um anão entre gigantes e vivia numa ilha. Até que nos cruzamos com o Lourinhanosaurus, um carnívoro com ,5 toneladas e dez metros de comprimento, o dinossauro com 150 milhões de anos que se tornou símbolo do município da Lourinhã e do Museu da Lourinhã. Mais uma curiosidade: “Só para terem uma ideia, 85 milhões de anos separam o Lourinhanosaurus [Jurássico] do T.rex [Cretácico]”, diz Simão Mateus. São muitos anos, acrescentamos nós, sendo que no parque se faz uma viagem de 400 milhões de anos. Pelo caminho, observaremos ainda o Supersaurus lourinhanensis, em destaque na entrada do Dino Parque. “Foi das primeiras escavações que o Museu da Lourinhã fez”, justifica Simão. Neste trilho, havemos ainda de nos cruzar, mesmo em frente a uma zona de merendas, com o maior dinossauro do parque: o Lourinhasaurus.
É tempo de deixarmos os dinossauros da Lourinhã e seguirmos para o percurso seguinte. O trilho do Cretácico, a época do dinossauro mais reconhecido em todo o mundo, o Tyrannosaurus rex. Em 1993 (coincidência das coincidências: no mesmo ano em que nascia a revista VISÃO!), Steven Spielberg aventurava-se no filme Parque Jurássico pelo mundo pré-histórico com criaturas milenares. Há 25 anos, o realizador mostrava de forma inovadora criaturas como o temível Tyrannosaurus rex, os Velociraptors, Triceratops, Dilophosaurus e Brachiosaurus. Mas nem tudo é como no cinema, alerta Luís Rocha, diretor do Dino Parque da Lourinhã. “Já aprendi muita coisa nestes meses de trabalho no parque e uma delas foi que o T.rex ainda não existia no Jurássico, e ele aparece no filme como se fosse dessa época”, comenta.
A fazer companhia ao tirano T.rex, neste percurso do Cretácico, estão o garra terrível Deinonychus (com uma das garras do pé muito desenvolvida), o Iguanodon ou dente de iguana, o Ankylosaurus (o mais célebre dos dinossauros couraçados) ou ainda os Triceratops. O passeio pelo parque já vai longo, e mais de duas horas entre dinossauros é só um aperitivo. Há muito mais para ver dentro do edifício principal, onde a exposição merece uma visita, pois acrescenta informação ao que está lá fora e explica como é que o parque foi parar à Lourinhã.
Os achados do museu
“A área museológica do parque é património paleontológico português”, esclarece Simão Mateus, assim que entramos de novo no edifício do Dino Parque. É da sua autoria o projeto museológico do núcleo que reúne parte do espólio do Museu da Lourinhã. São cerca de 100 peças, 20 das quais de grande dimensão, como esqueletos inteiros ou parte deles. Enquanto os fósseis verdadeiros estão protegidos dentro de vitrinas, as réplicas ficam no exterior. Nas últimas décadas, foram descobertos fósseis de várias espécies até então desconhecidas. São precisamente estes achados que dão corpo à exposição. “No Museu da Lourinhã o espaço tornou-se pequeno, já não havia para onde crescer. Há muitos anos que queríamos fazer um parque, houve vários projetos que não chegaram a ir para a frente”, justifica o paleontólogo.
Aqui, os achados ganharam espaço e uma nova vida. Integrados num contexto histórico que, com a ajuda de desenhos/cenários, permite descobrir o que se passava na Lourinhã no Jurássico Superior, há 150 milhões de anos. A riqueza e a importância dos fósseis da Lourinhã a nível mundial explica-se com factos como os que Simão Mateus dá a conhecer e que podem ser vistos nesta exposição. É o caso do ninho de Lourinhanosaurus, um dos maiores e mais antigos ninhos do mundo, ainda com ossinhos de embrião; o Miragaia longicollum, um estegossauro de pescoço longo; o Torvosaurus, ainda hoje o maior predador terrestre que alguma vez caminhou pela Europa; o ninho de Torvosaurus com ossinhos de embrião e, por fim, o mais antigo ovo de crocodilo do mundo, encontrado no meio de um ninho de ovos de dinossauro. Tudo isto faz-nos viajar no tempo, aprender e sonhar com estas criaturas de aspeto pré-histórico, umas mais simpáticas do que outras, mas todas elas importantes. Viajar até ao princípio de tudo, em suma.
Para lá dos trilhos
O que é possível ver, fazer, comer e comprar, no Dino Parque, numa extensão de dez hectares
Parque infantil e zona de merendas
O Dino Parque da Lourinhã também está preparado com várias zonas de merendas e descanso que vão aparecendo ao longo dos percursos. Rodeados de dinossauros, no meio do pinhal ao ar livre, é possível fazer piqueniques, pausas para um lanche ou simplesmente dar descanso às pernas. Estas áreas têm localizações privilegiadas, junto aos dinossauros mais relevantes da coleção. Uma das mais beneficiadas, e provavelmente será das mais concorridas, é a que fica em frente ao maior dinossauro do parque, o Lourinhasaurus. Para entreter os mais pequenos, há um parque infantil – alusivo aos dinos, pois.
Cafetaria/restaurante
Os dinonuggets de frango podem muito bem vir a estar no top das preferências na ementa do Dino Parque que, além desta sugestão, também serve almoços com pratos do dia, refeições rápidas à base de hambúrgueres, cachorros e saladas. Com duas zonas distintas, a cafetaria e o restaurante, logo à entrada do edifício do lado esquerdo, mais a esplanada e os equipamentos nos parques de merendas, são no total 800 lugares disponíveis para se sentar enquanto forra o estômago.
Loja
É capaz de ser difícil resistir a uma passagem pela loja do parque, sobretudo quando se leva crianças. Esta zona de compras, diga-se, fica logo à entrada do edifício do lado direito e é impossível não reparar nela, tal é a quantidade de objetos com formas de dinossauro, de fósseis, ovos ou esqueletos. De peluches a livros, pedras preciosas, peças de vestuário ou chapéus, encontra-se aí de tudo um pouco para todas as idades, adultos inclusive.
Laboratório
É à vista de todos os visitantes que, no laboratório, vão estudar-se os novos achados da Lourinhã. Os fósseis que forem sendo descobertos vêm para esta sala de 80 metros quadrados para serem analisados. Através das grandes vidraças que dão para o centro do edifício principal do parque, os visitantes assistem ao vivo ao trabalho de preparação paleontológica, às tarefas minuciosas à volta dos fosséis. Coisa preciosa para se perceber em que consiste, e para que serve, efetivamente, o trabalho dos paleontólogos.
Pavilhão de atividades
Ter a oportunidade de ser um paleontólogo é a base das experiências disponíveis no Pavilhão de Atividades, uma área ao ar livre, localizada na zona lateral ao edifício principal do parque. Há atividades para crianças de todas as idades. Os mais pequenos tanto podem pintar um dinossauro como construir o seu preferido em argila. Em idades mais avançadas, escava-se um esqueleto, em tamanho real, usando pás e vassouras, tal como faria um verdadeiro paleontólogo, recuperam-se e pesquisam-se fósseis num bloco de escavação ou procura-se por um fóssil em rochas com 50 milhões de anos, encontradas no estado americano do Wyoming. Visitas ao laboratório, para se falar com especialistas, também fazem parte do programa educativo.
Museu
Dentro do edifício principal do Dino Parque, existe uma exposição museológica digna de se ver e de nela se perder algum tempo. Baseia-se nos achados fósseis da zona da Lourinhã e, entre as peças do acervo do museu, há fósseis verdadeiros dentro das vitrinas e réplicas do lado de fora, como é o caso dos esqueletos (inteiros ou apenas uma parte) de dinossauro. O projeto museológico é da autoria de Simão Mateus, diretor científico do parque.
Dino Parque da Lourinhã > R. Vale dos Dinossauros, 25, Abelheira, Lourinhã > T. 261 243 160 / 91 588 8207 > jan-fev, out-dez, seg-dom 10h-17h (última entrada 15h30); mar-mai, seg-dom 10h-18h (última entrada 16h30); jun-set, seg-dom 10h-19h (última entrada 17h30) > €12,50, €9,50 (4-12 anos), grátis (0-3 anos), bilhete de família a partir de €31,50 (3 pessoas)
Ficar na Lourinhã
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Jardim Cervejaria Lourinhã
Na ementa encontra fraldinha dinossauro, picanha na pedra e açorda de polvo com aguardente DOC. Lg. D. Lourenço Vicente, Ed. Matias, Lourinhã > T. 261 419 141 > seg-sáb 8h-23h30, dom 10h-23h30
Foz Restaurante Lourinhã
Serve peixe fresco, caldeiradas, mariscada de polvo. Passeio do Mar, Praia da Areia Branca, Lourinhã > T. 261 469 348 > ter-dom 10h-23h30
Hotel Figueiredos Lourinhã
Trata-se de um três estrelas com 20 quartos, piscina coberta aquecida e parque infantil. Lg. Mestre Anacleto Marcos da Silva, Lourinha > T. 261 422 537 > a partir de €50
Noiva do Mar Lourinhã
Virado para o mar, este quatro estrelas tem piscina interior, spa e restaurante. Estr. do Vale Bravo, Atalaia, Lourinhã > T. 261 430 090 > a partir de €112