Conheço muitas boas pessoas que nunca entraram no Palácio Nacional da Ajuda. Pior: se alguém lhes fala nessa hipótese, inventam logo uma desculpa para saltarem fora. Fazem mal. Não sabem que perdem uma pequena viagem no tempo e ao pormenor, e que cada visita traz sempre alguma novidade.
Da última vez, reparei neste cão à entrada de uma das salas do piso térreo e sorri. Terá ele estado ali o tempo todo ou deitaram-no recentemente, mudo e quedo, no lugar de mais uma poltrona? É igual ao cão que nos assustava no cimo das escadas da casa da nossa tia-avó Inha, não pode ter-me escapado, pois não?
A verdade é que pode. As salas, saletas e salões do palácio são tão ricos em detalhes decorativos que nem dá para usar superlativos. Ou apenas um, numa confissão: foi dificílimo escolher a fotografia para acompanhar esta croniqueta.
Torna-se, por isso, natural não dar por tudo. E o tudo vai das pinturas nas portas aos vidros das janelas (lindos de imperfeitos), passando pelos frescos nas paredes, os quadrinhos de naturezas-mortas (as pombas, o leque e a sombrinha…), as esculturas em biscuit e cerâmica (o gato a comer o rato…), os pássaros pousados nos suportes dos cortinados. É muito, mas quando se entra no ateliê do rei, no andar das receções de gala, ainda se fica ali a pasmar.