Já foi pátio de escola primária, este que dá entrada ao novo polo cultural na rua das Gaivotas. Transposto o portão, há agora uma esplanada com espreguiçadeiras e, numa das paredes, o rosto esculpido por Vhils, durante o Visual Street Performance, em 2009. O edifício pertence à câmara municipal que, através da Direção de Cultura, decidiu transformá-lo num centro de trabalho para projetos culturais ligados às artes performativas. É o caso da Filho Único, associação que se dedica à promoção musical através do agenciamento de artistas (Norberto Lobo, B Fachada ou Pega Monstro), e da organização de concertos. Depois de mais uma Noite Príncipe, com música de dança no Musicbox, Nelson Gomes e Afonso Simões preparam a festa que fará parte, em abril, das comemorações dos dez anos do clube no Cais do Sodré.
Tal como a Filho Único, a associação P.O.R.K., de Andreia Carneiro e da bailarina e coreógrafa Marlene Monteiro Freitas, ou a Baldio Habitado – Estudos de Performance, todos os projetos selecionados para ocupar os cinco escritórios disponíveis, já tinham feito um pedido à câmara para a cedência de um espaço de trabalho. É que isto de andar a reunir em casa uns dos outros e ter que ensaiar em “casa alheia”, não mata, mas mói. Que o diga Ricardo Neves-Neves, diretor artístico e cofundador, com Rita Cruz, do Teatro do Eléctrico. Pela primeira vez, em sete anos, a companhia de atores pôde trabalhar em condições semelhantes às que vão encontrar no palco do Teatro da Politécnica, quando esta quarta-feira, 24, ali estrearem a comédia A Noite da Dona Luciana. Para tal, bastou alugar uma das salas de ensaio do primeiro andar do edifício (são três no total, equipadas para teatro, dança e música, a que se junta ainda uma polivalente e outra para formação). Com preços acessíveis e abertas a artistas não residentes, é por ali que nos cruzamos com a brasileira Mariana Vieira. Ensaia a coreografia a apresentar no final da residência artística de três meses que está a fazer no C.E.M. – Centro em Movimento, em Lisboa.
De casa às costas tem andado também o Teatro Griot. O nome vem da expressão usada em África para designar um contador de histórias, e é assim que a companhia – fundada em 2009 por Daniel Martinho e constituída maioritariamente por afrodescendentes – gosta de se definir. Dizer que estão contentes por terem morada fixa parece óbvio, mas Zia Soares, diretora artística e atriz, acrescenta-lhe outro ponto positivo aos projetos da Griot: “Trabalhamos com encenadores que vêm do estrangeiro e ter as residências perto, é perfeito”. Agregadas ao polo cultural estão as Residências da Boavista, quatro apartamentos ali a dois passos, prontos para receber artistas que venham em trabalho. Depois da reposição de As Confissões Verdadeiras de um Terrorista Albino, em Almada, os griots e griotes estão a trabalhar em Prometeu Agrilhoado, com encenação de João Fiadeiro, que subirá ao palco do Teatro do Bairro em junho.
Até final do ano, o Polo Gaivotas I Boavista vai contar ainda com um gabinete de apoio aos artistas, e já este verão está prevista programação cultural no pátio do edifício com a participação das associações “residentes” e da comunidade local.
Polo Cultural Gaivotas I Boavista > R. das Gaivotas, 8, Lisboa > T. 21 817 2600 > seg-dom 8h-20h