É um álbum resultante de um “processo de busca interior”, assim define o autor este disco, primeiro em nome próprio de Fred Ferreira, cujo nome ficou marcado, de forma mais discreta ou mais espetacular, na música portuguesa dos últimos 20 anos. Deu-se a conhecer na viragem do milénio, enquanto baterista dos Yellow W Van, numa altura em que era mais conhecido como “o filho do Kalú [baterista dos Xutos]”. Depressa se percebeu que Fred Pinto Ferreira (ou, simplesmente, Fred) não era apenas mais um filho de peixe que sabia nadar, mas antes alguém que queria voar bem alto à conta do seu talento. Oioai, Os Maduros, Buraka Som Sistema, 5-30, Orelha Negra (a sua “banda de sempre”) ou, mais recentemente, a Banda do Mar, com os brasileiros Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, foram alguns dos grupos dos quais fez (e faz) parte.
Em paralelo, acompanha em palco um sem-fim de artistas, dos rockers Dapunksportif à fadista Raquel Tavares, e ainda produz discos de gente como Mafalda Veiga ou Luís Represas. Depois de tanto tempo a trabalhar com, e para, outros, foi tempo de Fred se virar para dentro, “numa espécie de terapia musical” com um único objetivo: “reencontrar-me comigo próprio”.
Com uma linguagem musical a fazer lembrar os melhores momentos dos Orelha Negra, o primeiro trabalho a solo de Fred não é um mero exercício estético ou de virtuosismo, mas sim uma honesta catarse pessoal sob a forma de música, na qual cabe todo um universo pessoal e artístico muito bem explanado ao longo de faixas como Nós 2, Amor Sincero (com Amaura e Francis Dale), Tua Falta, Geshe (dedicada ao “amigo e guru” Zé Pedro), Boo (com palavras de Marcelo Camelo), Fica, O Equilíbrio (com uma sentida declamação de Carlão) ou Para Nunca Mais Cair, tema que encerra o álbum em tons de verde esperança, ao som do clássico True Love Will Find You in the End, de Daniel Johnston – porque o melhor, como Fred nos ensina neste disco, é sempre o que está para vir.
Veja o vídeo do tema Boo, com palavras de Marcelo Camelo