Ao décimo segundo disco de originais, poderíamos sempre desculpar os Eels, banda centrada no norte-americano Mark ‘E’ Everett, de não terem nada de novo para dizer. Mas “o mundo está uma desgraça”, como o próprio músico admite no lançamento do novo disco, e há que fazer alguma coisa acerca disso. O que há a fazer, no particular universo dos Eels, é visitar os temas que, no fundo, são seus desde sempre: a perda, a desilusão, a depressão, mas sempre com os olhos postos na redenção e na resistência. O mundo pode estar de pantanas, mas não é agora que os Eels se vão transformar numa banda panfletária. Tudo aqui é filtrado pelas experiências pessoais de E, tornando os grandes temas em temas nossos, nos quais cada um se pode rever.
Musicalmente, The Deconstruction funciona como um verdadeiro cardápio de tudo o que de melhor os Eels têm feito nas últimas décadas: há pop sorridente, há rock, há eletrónicas discretas e eficazes, há baladas lindíssimas. Como se os Eels fizessem, em 2018, um best-of, só que preenchido inteiramente com temas originais.
A qualidade do alinhamento faz com que este seja um dos melhores discos da carreira da banda, que nunca fez um álbum abaixo do nível médio. O que falta aqui é a tal “desconstrução”, algum tipo de rutura com o passado que o título poderia indiciar. No seu lugar, temos uma banda a fazer, muito bem, aquilo que sempre fez. Mr. E pode estar zangado, mas não é homem de revoluções. Este é o regresso de um velho amigo, que não desilude. E a quem poderemos dar um abraço na edição deste ano do festival NOS Alive.