Quando em 2006 se apresentou ao mundo, com o aclamado álbum de estreia Real Life, Joan Wasser ganhou de imediato um lugar na galeria das vozes mais notáveis deste novo século. Até então, era apenas notabilizada como violinista/vocalista dos pouco conhecidos The Dambuilders ou, até mais, como namorada de Jeff Buckley à época da sua morte. Segundo consta, terá sido para ela que o malogrado músico terá escrito a música Everybody Here Wants You. Um título que parecia premonitório, como se provaria, nos anos seguintes, nas sucessivas colaborações com gente tão distinta como Nick Cave, Lou Reed, Antony Hegarty, Rufus Wainwright ou Lloyd Cole. To Survive (2008) e The Deep Field (2011) confirmaram todas as expectativas sobre uma artista que a cada disco se reinventa sem perder um pingo de identidade. Assim aconteceu mais uma vez, em 2014, no surpreendente The Classic, um disco em que se aventurou, pela primeira vez, pelos terrenos da soul e do jazz. Ou há dois anos, em Let It Be You, assinado a meias com o músico nova-iorquino Benjamin Lazar Davis, mais próximo das batidas R’n’B e eletropop.
Desta vez, são outros os universos (e não só musicais) desbravados. Damned Devotion apresenta um registo despido de artifícios, que remete para os ambientes das baladas românticas dos anos 70 e 80, em que teclas e sintetizadores fazem brilhar letras diretas, pessoais e introspetivas sobre amor, paixão, ciúme, desilusão e remorso. Um tratado sobre as relações pessoais de ontem, hoje e amanhã.