'Quando se Ama Loucamente', o disco de Aldina Duarte em causa própria
27.11.2017 às 12h06
Uma canção oferecida, um desgosto de amor, literatura que salva... Ingredientes certos para um disco de fado no século XXI. Eis Quando se Ama Loucamente, de Aldina Duarte

A grande força do disco Quando se Ama Loucamente vem das palavras da própria fadista
Iluminado pela luz que irradia desse planeta literário único chamado Maria Gabriela Llansol (1931-2008), o novo disco de Aldina Duarte faz pensar nessa palavra tão cara ao universo fadista: “verdade”. Tudo começou no momento em que Manel Cruz (esse mesmo, fundador, há mais de 20 anos, dos Ornatos Violeta) escreveu a canção Quando se Ama Loucamente, letra e música, a pensar na voz de Aldina Duarte. Mas, quando essa oferta chegou às mãos da fadista, não havia sequer a ideia de um disco em perspetiva. Demoraria algum tempo até se tornar uma peça importante de um puzzle feito de vida verdadeira, a de Aldina Duarte na ressaca do fim de uma história de amor.
A canção de Manel Cruz pode ter dado o título ao sexto disco de Aldina Duarte, mas a grande força deste Quando se Ama Loucamente vem das palavras da própria fadista. Dez dos 12 fados (sendo que, para os puristas, não será claro chamar fado à criação de Manel Cruz...) têm letra de Aldina (a outra exceção é Beijo Enganador, de Maria do Rosário Pedreira). São os versos da fadista, escritos em causa própria e associados à cadência de fados tradicionais pouco explorados nos últimos anos (um deles é mesmo inédito), que dão a todo este disco uma verdade e autenticidade à prova de dúvidas.
Cada tema é antecedido por citações, inspirações (outra peças do puzzle, afinal) saídas da obra de Maria Gabriela Llansol, páginas que ajudaram Aldina a navegar os dias difíceis de um amor perdido. Há, por aqui, no puzzle completo, tanto de elogio ao amor e à paixão como, em contraponto, de melancolia e tristeza por um sentimento de perda.
E acreditamos que o efeito de verdade se acentuou, ainda, pelo modo como o disco, com produção de Pedro Gonçalves (dos Dead Combo), foi gravado: em três tardes, voz e músicos (Paulo Parreira e Rogério Ferreira, com quem costuma tocar, há anos, na casa de fados Sr. Vinho) no mesmo take, em perfeita sintonia.

Um dos fados tradicionais a que Aldina Duarte deu as suas palavras neste Quando se Ama Loucamente nunca tinha sido gravado desde a sua criação, há 40 anos. Trata-se do inédito Fado Ferreira, que pode ouvir-se no tema Refúgio.
Ouça aqui Casa do Esquecimento, do novo disco de Aldina Duarte, Quando se Ama Loucamente