‘Les Étoiles du Bolchoi – Anthologie’ (Via Classic, €83,90), caixa-coleção, reúne clássicos intemporais e grandes intérpretes russos
Para quem goste de dança, ópera, bailado e grande música, Les Étoiles du Bolchoi – Anthologie é uma pequena arca de tesouro: nesta coleção de 14 discos (dez DVD e quatro CD), podemos ver e ouvir algumas das mais míticas e históricas produções e execuções do Teatro Bolshoi, compreendendo o bailado, a ópera ou a música. E também contemplar nomes grandes da dança como Ekaterina Maximova, Vladimir Vassiliev (ambos em Spartacus e O Quebra-Nozes), Natalia Bessmertnova (O Lago dos Cisnes e Giselle) ou Galina Kalinina (Boris Godunov e I Pagliacci), entre outros, ou apreciar óperas de Tchaikovsky, Mussorgsky, Leoncavallo e bailados compostos por Tchaikovsky, Khachaturian, Gautier ou Chtchedrine. No que respeita à música, os quatro CD incluídos na caixa reúnem os grandes coros operáticos, excertos de alguns bailados e valsas mais famosos, e o Requiem, de Verdi.
Mesmo sabendo que algumas das gravações em vídeo estão disponíveis em DVD isolados (é o caso, em Portugal, de O Lago dos Cisnes e de O Quebra-Nozes), esta caixa oferece a possibilidade de, a um preço imbatível, aceder como que a uma mini-história dos espetáculos do Bolshoi, a companhia criada em 1776, cujo teatro, construído em 1825 sobre as ruínas do antigo Teatro Petrovsky, foi sujeito a profundas obras de remodelação entre 2005 e 2012. Foi no Bolshoi que, por exemplo, se estreou O Lago dos Cisnes, em 1877. A produção desta obra incluída na coleção data de 1983, final do período soviético, e o carácter histórico de alguns dos registos confere também um extraordinário carácter documental a esta seleção.
O mais importante é que, nestas produções, pode perscrutar-se a alma russa em toda a sua intensidade dramática. Isso é notório no repertório das peças escolhidas, mas também na força de cenas como a da morte solitária de Anna Karenina, na escolha do povo russo como protagonista (o primeiro herói coletivo da história da ópera encontra-se em Boris Godunov, de Mussorgsky), na proposta de Spartacus como um libertador, ou ainda nos dramas passionais e amorosos contados em O Lago dos Cisnes, O Quebra-Nozes, Giselle, I Pagliacci ou Anna Karenina. Também a riqueza e a exuberância dos cenários e do guarda-roupa (por exemplo, em Boris Godunov, se nos é possível destacar uma obra e ser injusto para com as restantes) falam dessa capacidade mística e humana de um povo, tão bem captada e transmitida pela arte do Bolshoi.
