Estas são três viagens pessoanas a fazer. Partida: o heterónimo pessoano Alberto Caeiro, que terá nascido a 8 de março de 1914, e morrido de tuberculose em 1915, surgiu de uma “casualidade”: “Lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro: de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada”, contou Pessoa, citado na introdução de Obra Completa de Alberto Caeiro, com edição de Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari, responsáveis por Obra Completa de Álvaro de Campos (2014) e Fernando Pessoa Eu sou uma antologia 136 autores fictícios (2013) na mesma coleção. Este belo volume reúne todos os livros de poesia “caeirianos”, textos de Pessoa para a contextualização da criação, e a versão integral do caderno de O Guardador de Rebanhos – originalmente escrita em inglês. Respeitador da pontuação original do poeta, o livro revela o universo do pastor simples capaz de epifanias, traçando genealogias e influências (Walt Whitmam é referido), e defendendo a existência de dois Caeiros – um, publicado na revista Orpheu (1915) e desaparecido em 1920; outro, póstumo e trabalhado, por razões insondáveis, por Pessoa até à sua morte, em 1935.
Apeadeiro: Pierre Hourcade encontra Fernando, pela primeira vez, no café Martinho da Arcada, em fevereiro de 1930. A empatia é imediata, e o então estudante de 22 anos divulgará a obra pessoana em França: “Deixa muito para trás os nossos pálidos e secos teóricos de vanguarda”, diz. A devoção, estendida à tradução, será praticada nas décadas seguintes. Ensaio inédito, A Mais Incerta das Certezas – Itinerário Poético de Fernando Pessoa, defende, em sete capítulos, a obra do Pessoa ortónimo, que Hourcade considera “o mais maltratado dos protagonistas do ‘drama em gente’”. Regresso ao ponto de partida: Pedro Eiras faz um jogo entre fição e realidade, que decerto agradaria ao poeta, em Cartas Reencontradas. Narrativa epistolar, “colige” as cartas escritas por Pessoa a Sá-Carneiro, quando este está em Paris (1915/6). Há “abraços europeus”, conspirações, saudades, confissões: “À claridade da antemanhã, creio na minha obra, no meu génio.”
Haverá um mês sem novidades pessoanas? É pouco provável. Várias editoras têm lançado livros de e sobre Fernando Pessoa, nomeadamente Assírio & Alvim, Tinta da China e INCM, que têm contribuído com um intenso trabalho de publicação de inéditos, reedições, antologias, edições críticas da obra do poeta…
Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro > de Pedro Eiras > Assírio & Alvim > 160 págs. > €14,40
A Mais Incerta das Certezas – itinerário poético de Fernando Pessoa > de Pierre Hourcade > Tinta da China > 488 págs. > €16,90
Obra Completa de Alberto Caeiro > edição de Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari > Tinta da China > 488 págs. > €24,90