Logo que se entra na Estrada Nacional 222 – considerada uma das mais belas do mundo –, é impossível não ficar colado à janela. A beleza do rio Douro e as diferentes tonalidades de verde nas encostas, com as vinhas a despontar na primavera, fazem esquecer as curvas e contracurvas (muitas, por vezes) desta estrada que une o País do Litoral ao Interior, de Vila Nova de Gaia a Vila Nova de Foz Coa. À chegada a Pinhão, mesmo ao lado da ponte projetada por Gustave Eiffel no século XIX, The Vintage House – senhorial e bem maior do que parece visto de fora, mas já lá vamos – continua a proporcionar-nos o mesmo cenário, com o Douro a entrar pelas portas e janelas de cada um dos 39 quartos e 11 suítes (só três dão para as traseiras), deste que foi o primeiro hotel de cinco estrelas da região. Aberto em 1998, desde então passou por várias mãos até regressar, em 2016, aos primeiros donos: o grupo The Fladgate Partnership (dono de The Yeatman Hotel, em Vila Nova de Gaia) e proprietário das marcas de vinho do Porto Taylor’s, Fonseca e Croft.
Manteve-se o mobiliário de época (aparadores, jarrões), estofaram-se cadeiras e sofás, mudaram-se cortinas e a decoração dos quartos, pintaram-se algumas das paredes de cores fortes. A renovação do hotel nos últimos três anos (custou um milhão de euros) trouxe também sete novos quartos, entre os quais quatro master suítes (ideais para famílias), com nomes de castas de vinho: Tinta Barroca, Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz. “O hotel ganhou mais luz”, admite Richard Bowden, diretor de marketing do grupo. Os corredores e os pisos desnivelados levam-nos em ritmo de passeio pelo interior do hotel, surgido a partir da antiga casa de habitação e dos armazéns de vinho. Do Library Bar ou do restaurante Rabelo, abertos ao público, continuamos a avistar o rio. Se o tempo estiver convidativo, saberá bem a refeição lá fora, no terraço, com vista para as palmeiras do jardim.
Na nova carta, o chefe João Santos, natural de Pegarinhos, Alijó, acentuou a cozinha tradicional duriense. O polvo vem com feijão-verde e espetadinha de batata nova, o bacalhau é servido com feijoada de sames, puré de feijoca, minicouve e gamba salteada em azeite, a perna de cordeiro é assada “à nortenha”, com risoto de grelos e linguiça, e o porco acompanha com puré de castanha, favas estufadas e crocante de salpicão. O leite-creme com gelado de canela e o bolo tradicional borrachão (com vinho do Porto) destacam-se nas sobremesas. O restaurante alargou também a oferta de massas e de pratos vegan e vegetarianos. Sempre que possível, o chefe abastece-se por ali: os legumes vêm de Vila Real, os cogumelos da Régua, os enchidos de Pinhão, o pão é cozido numa padaria em Folgosa. O mesmo cuidado se nota ao pequeno-almoço, servido no Salão do Rio, de olhos postos nas águas do Douro (lá está): compotas caseiras de fruta (pera, melão, abóbora, ananás), manteiga de amendoim, marmelada, charcutaria regional, queijos de cabra e de ovelha.
Os vinhos e as vinhas
Manhã cedo, abertas as portadas das janelas e da varanda, veem-se os barcos rabelo (atracados no cais mesmo em frente a The Vintage House) zarpar do cais de Pinhão rumo à foz do rio Tua, num vaivém que faz parte da paisagem. Além dos passeios, o hotel organiza visitas guiadas e provas de vinho do Porto a duas das quintas do grupo The Fladgate Partnership. É para lá que vamos.
Comecemos pela Quinta da Roêda, a menos de dois quilómetros, berço da Croft, a mais antiga marca de vinho do Porto (o Pink é o mais vendido). Depois da visita aos lagares de pedra e à vinha – onde se organizam piqueniques (há duas cestas, de €30 e €48) –, provam-se três vinhos do Porto no centro de visitas (a partir de €12). Quem quiser, pode juntar-lhe uma tábua de queijos e amêndoas torradas do Douro (€9). Ao longe, escuta-se o comboio que deve ter parado na belíssima estação de Pinhão, com painéis de azulejos da fábrica Aleluia. Seguimos viagem até à Quinta do Panascal – a primeira, no Douro, a abrir a visitas, em 1992 – que se ergue majestosa sobre o vale do Távora, onde nascem os vinhos da Fonseca, em 77 hectares que a vista não alcança. A pedido (mínimo 10 pessoas), organizam-se almoços e jantares na antiga casa da família – ouvimos dizer que o cabrito cozinhado pela dona Mila é de chorar por mais. Tudo brindado com o silêncio do Douro e um cálice de Porto.
O programa de primavera do hotel inclui uma visita à Quinta da Roêda com prova de vinhos (mínimo duas noites, com pequeno-almoço, a partir €100 por noite).
The Vintage House > R. António Manuel Saraiva, Pinhão, Alijó > T. 22 013 317 / 254 730 230 > quartos duplos a partir €135, master suítes a partir €400