Antes de Portugal voltar a apaixonar-se pelo campo, já a Herdade da Matinha, fundada há mais de 20 anos, sabia que era para lá que todos quereríamos fugir. Entretanto, o turismo de habitação sofisticou-se, ao mesmo tempo que se aproximou dos nossos instintos – estar perto da Natureza nunca fez tanto sentido como agora. E isso nota-se assim que chegamos à entrada cuidadosamente selvagem da herdade. Aqui, tudo cresce à sua maneira, até os quartos. Ao início havia quatro, atualmente há 22, e o objetivo é chegar aos 34, como explica Martha Molina, a diretora da Matinha, que nos recebe, entre preparativos para a chegada do calor, com sorriso de orelha a orelha. “Vamos ainda ter um bar exterior e continuar a apostar na ideia de as pessoas estarem cá fora, perto da Natureza, seja a andar a cavalo, a fazer ioga ou amigos”, diz.
Alfredo Moreira da Silva e Mónica Belleza tropeçaram nesta propriedade alentejana e nela viram qualquer coisa que ainda ninguém tinha visto, “um turismo de autenticidade, proximidade e partilha”, como descreve Alfredo, inspirado nas suas estadas prolongadas na Austrália. A herdade foi crescendo devagar, sem transformá-la “num parque temático e sabendo preservar-lhe a poesia”, acrescenta. A poesia, na verdade, está por todos os recantos, desde os quadros pintados por Alfredo ao espírito circular da própria herdade, tudo feito para nos pôr a conversar uns com uns outros, a ver o sr. Henrique a ir buscar os ovos que mais tarde nos chegam ao prato ou a entrar na cozinha para espreitar o jantar. Mesmo ao lado da sala de pequenos-almoços, ampliada recentemente, há uma horta com couves que também terá tomates, morangos e outros ingredientes com os quais David Proença, o novo chefe, poderá brincar – além das idas à lota de Sines ou ao talho local, claro. “Vim fazer testes no final do ano e acabei por ficar”, conta, embalado pela ideia de fazer uma gastronomia local, sazonal e sustentável, sempre com pequenos fornecedores. “Tornámos a cozinha da Matinha mais profissional e trouxemos de volta a ideia de comida de conforto, moderna, mas com alguns métodos que nos lembram os das nossas avós”, explica, enquanto prepara o jantar, uma viagem entre a acidez do ceviche e a delicadeza do robalo com algas. Já o brunch, uma novidade, tanto tem ovos mexidos feitos na hora como um dos melhores rosbifes que já provámos, ou os originais doces feitos por Dinha, uma das cozinheiras, ideais para comer tarde afora com pão e chá. É que, sem darmos por isso, o tempo começou a passar mais devagar.
Herdade da Matinha Country House & Restaurant > EN390, Cercal do Alentejo > T. 93 373 9245 > a partir de €85