Pedimos desculpa, mas é impossível não fazer uso do trocadilho fácil. Ou que mais poderá dizer-se da abertura de uma nova mercearia que agitou o bairro lisboeta de Alvalade? Que foi um “grande granel”. Não existe outra forma de explicar aos leitores que já existem dispensadores vazios por rutura de stock ao fim de terem as portas abertas há menos de um mês. Compreende-se: a Maria Granel – como se chama, pois é assim que todos os produtos biológicos (ou, em raros casos, tradicionais) são vendidos – alia uma loja decorada de forma moderna a uma ideia do antigamente. As madeiras claras, as mensagens escritas a giz nas paredes, os armários com rede metálica e a iluminação são 100% século XXI. Apesar disso, o ambiente afetuoso remete-nos para as mercearias de bairro de uma época pré-hipermercados. E depois, não sabemos para onde nos virar, nem o que pôr dentro dos saquinhos de papel, dada a variedade de produtos (diz que são 240, não contámos).
Impossível não reparar no dispensador de mel, de onde o dito sai para os frascos que estão na prateleira. E como resistir aos tremoços e às azeitonas guardados em divisões metálicas, como nos buffets? Avisa-se já, se levar uma criança pela mão, ela vai querer provar as gomas biológicas ou até as vegetarianas. De resto, há de tudo, como nas mercearias: ovos (à unidade), massas, arrozes (14 tipos diferentes), farinhas (de alfarroba ou espelta, por exemplo), chás, imensos chás, sal marinho, desidratados, frutos secos, leguminosas, cereais para pequeno-almoço, algas, sementes. “A ideia é que as pessoas façam aqui as suas compras semanais ou até diárias. Não se trata de uma loja gourmet, onde se vai uma vez por graça. Tentamos, por isso, praticar bons preços e, como só levam a quantidade que querem, acaba por ser mais sustentável”, explica Cristiana Gastão, a diretora da loja (e uma excelente relações públicas) e amiga dos donos, um casal misto de açoriano com minhota.
Para ajudar a segurar nos muitos embrulhos de papel que se colecionam numa visita à Maria Granel, podemos pedir emprestados os sacos de serapilheira arrumados à entrada (custam 10 euros). Mas há mais merchandising, aventais, crachás ou sacos de pano, mesmo a jeito, enquanto se espera que nos façam a conta. Porque aqui deve obedecer-se à frase escrita numa das paredes: “Abrande. Trave. Saboreie.”
Maria Granel > R. José Duro, 22B, Lisboa > seg-sex 9h30-19h, sáb 9h-18h