Comecemos pela conclusão: consistente e irresistível. Desde que abriu portas no número 100 da Avenida de Roma, em abril do ano passado, o Soão não tem parado de surpreender. Ora sobressai pela decoração sofisticada e ao mesmo tempo simples, ora surpreende pela inovação dos cocktails criados por Vasco Martins e ninguém ficará, seguramente, indiferente à consistência de pratos que já se tornaram emblemáticos e referências na cidade, como as asinhas de frango coreanas, super picantes com um molho pegajoso de fazer lamber os polegares, a sopa tom yum e o pad thai, ambas receitas da Tailândia. Desde que não os retirem da ementa, podem reinventar toda uma oferta centrada no produto, na confeção, no paladar e no prazer. Pois, no fim, trata-se de desejo e prazer, mais do que de fome.
O jantar de apresentação das novidades da Indonésia, Laos, Tailândia e Japão começou da melhor forma. De copo na mão, com o Ichi-go ichi-e (€12), cocktail inspirado na filosofia japonesa “um encontro, uma oportunidade”, feito com gin Nikka, xarope de lima kaffir, menta, clara de ovo, sumo de yuzu e champanhe Laurent Perrier La Cuvée Brut. A degustação seguiu-se a bom ritmo, informal e despretensiosa. Às entradas foram acrescentadas as tung tong, também conhecidas como money bags (€9,50), umas bolsinhas de massa frita, recheadas de frango e castanha de água, típica na Tailândia, e um molho doce viciante. O udang sambal (€18), da Indonésia, junta no mesmo prato camarão, amêijoas e um picante molho asiático à base de malagueta. Ao bao, petisco típico das ruas de Taiwan, o chefe Luís Cardoso juntou a tempura de caranguejo de casca mole com uma maionese kimchi (€13) e foi aprovado com distinção. Mesmo para quem não é fã da textura destes pãezinhos, por vezes esponjosa, este bao caseiro superou as expectativas. Há dois caris novos, ambos com carne como proteína, e não é fácil dizer qual o preferido, se o caril massaman de pato, com batata-doce, amendoim e canela (€27), proveniente da fronteira entre a Tailândia e a Malásia, ou o rendang de wagyu (€35), um caril condimentado e intenso que na Indonésia costuma ser feito com chambão, mas no Soão, Luís Cardoso elevou a fasquia puxando pela carne de vaca japonesa. No fim, até misturámos os dois, criando um terceiro caril.
A carta de sushi também tem novidades: o tai kimchi (€13), peixe branco (naquela noite foi lírio) marinado em kimchi, sésamo, lima, feijão verde e espargos; o ika mentaiko (€14) envolve choco fatiado com ovas de bacalhau, pode parecer improvável, mas resulta. E antes da despedida, um pequeno debate sobre a consistência da nova sobremesa japonesa (€7): será cheesecake ou será pão-de-ló? Certo é que leva queijo.
Até ao final deste ano, o Soão promete alargar a sua oferta e não falamos só de comida. É mesmo o espaço que vai aumentar. Nas catacumbas desta taberna asiática, onde ficam as salas privadas, abrirão mais quatro salas, permitindo mais 24 lugares. O que mais podemos querer?
Soão > Av. de Roma, 100, Lisboa > T. 21 053 4499 > seg-dom 12h30-15h30, 19h-23h