Enquanto tatua o “seu amigo João”, Diogo Nunes afirma que são os mais pedidos são os “infinitos”, ou seja, uma espécie de número oito na horizontal. Mas da sua agulha está a sair uma caveira diretamente para a perna de João Pinto, que conta ficar deitado mais duas a três horas até o trabalho estar completo. Começou a marcar o corpo há cerca de 12 anos, sem vontade de parar. “É transmitir aquilo que tu sentes na tua pele”, resume.
O tatuador também conta que a primeira marca que fez foi uma homenagem ao seu pai, que se tornou seu mentor e responsável por nem ter pensado em ir para a faculdade de artes. “Consigo praticar a minha criatividade dentro desta sociedade sem ter de me cingir a tantos limites”, diz.
Da organização desta 9.ª edição do Festival Tatto e Rock a decorrer na Lx Factory, em Lisboa, Catarina Albuquerque enumera expressões que precisam de tradução para quem está fora do mundo das tatuagens: “old school”, “new school” e “realismo”.
Trocado por outras palavras, Catarina centra-se na tendência que acha que está mais em voga, o realismo, explicando que são tatuagens com mais detalhes e que passam por retratos, como “marca de família, de queridos e de falecidos”.
De Viseu e com sotaque português do Brasil, Led Coult nota que antes todos os tatuadores faziam eco do “lettering e das tribais”, agora vão assumindo o seu estilo e conseguem seguidores por isso. “Setenta por cento das pessoas confia no artista”, responde o tatuador quando a pergunta é se as pessoas levam o seu desenho ou confiam em quem tem a agulha na mão.
Bodypiercer, César Sousa acompanha de perto o trabalho dos tatuadores do estúdio onde trabalha em Algés e garante que é o “tradicional que está em voga, o old school”, mas “há de tudo, todas as pessoas são diferentes e isso é que é bom”.
“Quando acaba a pele, acaba a tela”
No seu corpo contabiliza uma área de “70%” tatuada. “Espero daqui a um ou dois estar acabadinho, mas depois há um retoque, pode dar um bocado de cor” porque afinal quando “acaba a pele, acaba a tela”.
Se não há consenso entre o que está na moda nas tatuagens, todas as opiniões ouvidas pela agência Lusa concordam que a crise não é inimiga da arte de marcar a pele com tintas.
Enquanto é tatuado, João Pinto assume ser “bastante caro”, mas que isso nem importa quando se tem o “melhor”. “E aquilo que representa para a tua vida”, argumenta.
“Quase que é uma necessidade. É algo que se sente vontade”, diz Henrique, que veio à convenção para tatuar uma medusa.
Rogério não entra em pormenores sobre o motivo que escolheu e diz apenas ter sido “uma notícia má” recebida há pouco tempo. A tatuagem feita no primeiro dia da convenção vai juntar-se às outras que também têm histórias.
Vou parar quando não tiver espaço. Espero que não pare, porque quer dizer que tenho vivido coisas boas e coisas más”, conclui.