O vídeo tornou-se quase viral, pelo menos entre os apreciadores de ciclismo e, em especial, entre os portugueses. Foi quase em estado de histeria que os comentadores espanhóis do canal Teledeporte relataram os últimos metros do sprint entre Joaquín Rodriguez e Rui Costa no campeonato do mundo de estrada, realizado em Florença, a 29 de setembro. O português arrancou mais forte e bateu o espanhol por escassos centímetros. Para a história ficará a sua expressão, cruzando a meta com as mãos na cabeça, com um ar entre o eufórico e o incrédulo. O nível de estupefação só era comparável ao dos comentadores que, após um breve silêncio, disseram, finalmente, o nome do vencedor luso em voz baixa, logo seguido de um “qué lástima!”
Aos 26 anos, o ciclista de Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, é um verdadeiro fora de série do desporto português e os feitos alcançados levam já muita gente a compará-lo a Joaquim Agostinho. Francisco Araújo, 79 anos, amigo e antigo mecânico do mítico ciclista nacional, não se furta a isso e até vai mais longe: “Não ficaria admirado se ele ultrapassasse o conseguido pelo Agostinho, que foi um grande campeão mas que começou tarde, apenas aos 25 anos. O Rui Costa ainda só tem 26 e já ganhou muita coisa, e muitas provas difíceis, como os 4 Dias de Dunquerque. Eu também lá andei e sei como é…”
Acamado em casa, em convalescença, após uma cirurgia, Francisco Araújo não viu a prova “porque estava sem internet” mas contou com a ajuda de um jovem amigo que lhe fez o relato a partir da sala ao lado. Vibrou – “e de que maneira” -, com a vitória de Rui Costa. “O rapaz é um fora de série!”
José Azevedo, outro dos grandes nomes do ciclismo português, agora diretor desportivo da RadioShack, e que, na próxima época, vai orientar a equipa russa da Katuscha, não acha justa a comparação. “É como comparar o Eusébio ao Ronaldo”, considera. Ainda assim, não poupa elogios a Rui Costa, “um ciclista com grandes capacidades físicas, aliadas à inteligência e a uma excelente leitura da corrida”.
Depois de uma época notável ao serviço da formação espanhola da Movistar, em que venceu a Volta à Suíça pela segunda vez consecutiva e duas etapas, no Tour de França – em 2011 já havia ganho uma -, Rui Costa assinou agora pela equipa italiana Lampre-Mérida. O objetivo é ter a possibilidade de correr numa formação em que possa ser a aposta para a geral, em provas mais longas, ao contrário do que sucedia na Movistar, onde ficava muitas vezes a trabalhar para Alejandro Valverde ou Nairo Quintana, os chefes de fila. “Penso que será o passo seguinte”, prevê José Azevedo. “Ele já provou que é bom em provas de um dia ou de uma semana, agora vai participar em provas de três semanas. Eu, se fosse diretor desportivo dele, era no que apostava.”