As caixas de comentários dos jornais online são geralmente conhecidas por albergarem comentários negativos, provocadores ou ataques pessoais ao autor e/ou visados no artigo.
Agora, uma pesquisa patrocinada pelo Australia Research Council e realizada por Fiona Martin, da Universidade de Sidney, afirma que a maioria dos autores destes comentários são homens. A pesquisa baseou-se na recolha de dados (durante três meses) nas secções de comentários de 15 publicações noticiosas, tais como o The New York Times, o The Guardian, The Washington Post, a BBC, o ABC, o Daily Mail e Sydney Morning Herald, entre outras.
A investigadora contabilizou que os comentadores que se identificam como homens ou que usam nomes masculinos, a par com comentadores que usam usando pseudónimos que não são claramente identificáveis como masculinos ou femininos (e que foram contabilizados como “ambíguos”), dominam a conversa nas caixas de comentários.
Apenas 15 a 20% dos comentários às notícias publicadas na Internet são feitas por mulheres (ou seja, comentadores com nomes claramente femininos ou que se identificam como mulheres). No entanto, é difícil indicar com certeza as razões que justifiquem tal disparidade entre os números de comentários escritos por homens e mulheres.
Segundo a investigadora, pode ser apenas reflexo de dinâmicas sociais mais abrangentes, que fazem com as que as mulheres tenham efectivamente menos tempo para o fazer (porque ainda fazem mais trabalho doméstico e prestam mais cuidados do que os homens). E a própria forma como as caixas de comentários estão estruturadas poderia ser melhorada de forma a encorajar maior diversidade de participação e menos antagonismo.
“A dinâmica do contraditório, em especial quando a primeira pessoa que posta arrasa o autor do artigo, acaba por limitar a diversidade de opiniões e estabelece uma dinâmica realmente negativa depois disso”, disse Martin ao The Newspapers Works.
“E há alguma pesquisa que sugere que os comentários negativos contribuem para a desvalorização do artigo, por parte dos leitores”, reforçou a investigadora.
Recentemente, alguns sites como o The New Yorker e a Reuters já se começaram a afastar desta tendência, removendo as secções de comentários de leitores sobre artigos.
“Há muito desinteresse pelos comentários [por parte dos jornalistas], porque consideram que os comentários são um caso perdido, pois estão povoados por excêntricos e pessoas desagradáveis, com raiva, e aos ‘gritos'”, disse Martin.
“As notícias e o jornalismo são um ambiente social onde o foco no conflito e drama humanos gera respostas passionais; respostas que reproduzem, fazem circular e amplificam as desigualdades sociais, os medos e ódios existentes”, pode ler-se no artigo.
Fiona Martin considera jornalistas e editores terão de pensar a intervenção dos leitores como uma parte valiosa do ecossistema de notícias e desenvolver abordagens mais sofisticadas para facilitar a gestão dos comentários.