Já lhe terá passado pela cabeça que bom mesmo seria poder-se tomar um medicamento de que resultasse o efeito de uma sessão de cem abdominais. Ainda não é bem assim, mas quase. No início do ano, uma equipa de investigadores americanos, liderada pelo cientista Bruce Spiegelman, publicou na revista Nature um artigo em que dá conta da existência de uma hormona desconhecida até então: a irisina. Produzida nos músculos sempre que se pratica exercício, esta proteína tem o poder de aumentar a libertação de calor corporal – o que contribui para a perda de calorias – e de regularizar os níveis de açúcar no sangue. Em viagem pelo corpo, a irisina, que recebeu o nome da deusa grega Íris, a mensageira, opera o milagre da transformação da má gordura branca na boa gordura castanha (ou bege, como se tem vindo a chamar agora). “Havia a ideia de que o exercício falava com os vários tecidos do corpo, mas não se sabia como”, explicou Spiegelman, em comunicado. Em ratinhos, a equipa conseguiu, com uma injeção de irisina, reproduzir alguns dos efeitos do desporto: aumento do consumo de oxigénio, maior produção de calor, perda de peso e normalização da taxa de glicose.
Em plena epidemia de obesidade/diabetes, a nova descoberta afigura-se boa de mais para ser verdade. “A grande questão agora é: quais serão os efeitos colaterais de provocarmos um aumento na quantidade de gordura castanha?”, alerta Ana Domingos, 36 anos, investigadora da Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque, que irá em breve montar um laboratório de Neurobiologia da Obesidade no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras. Spiegelman, esse, está tão confiante na sua descoberta que criou uma empresa para a explorar comercialmente. Dentro de dois anos, poderão iniciar-se os testes em humanos. Não será suficiente para arrumar de vez os ténis. Mas poderá ser uma boa ajuda para potenciar os efeitos do exercício.