O estudo, publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, identificou em camelos dromedários de Oman anticorpos ligados ao coronavírus que provoca a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS) ou a outro vírus muito parecido.
Esta descoberta pode indicar, admitem os investigadores, que aqueles animais sejam reservatórios do vírus, que já infetou pelo menos 94 pessoas, sobretudo no Médio Oriente.
A equipa internacional de cientistas, liderada por Chantal Reusken, do Instituto Nacional de Saúde Pública e Ambiente de Bilthoven, Holanda, recolheu 349 amostras de soro de diversos animais de pecuária, incluindo camelos dromedários, vacas, ovelhas e cabras, de países como Oman, Holanda, Espanha e Chile.
Embora não tenham identificado anticorpos do coronavírus em 160 vacas, ovelhas e cabras provenientes da Holanda e de Espanha, os cientistas encontraram anticorpos específicos da MERS em todas as 50 amostras de camelos de Oman.
Como aquelas amostras foram recolhidas em diferentes locais do país, os cientistas concluem que o coronavírus da MERS, ou um vírus muito semelhante, circula vastamente pelos dromedários da região.
“Numa altura em que continuam a aparecer novos casos humanos de MERS, sem quaisquer pistas sobre as origens da infeção, exceto nas pessoas que o apanharam de outros doentes, estes novos resultados sugerem que os camelos dromedários podem ser um reservatório do vírus que está a provocar o MERS nos humanos”, escrevem os autores do estudo, lembrando que aqueles animais são populares no Médio Oriente, onde são usados para a produção de carne e de leite, pelo que há grande contacto entre eles e os humanos.
Perante estes resultados, a Organização Mundial de Saúde (OMS) veio alertar, em conferência de imprensa, que não há provas suficientes para afirmar que os camelos são os responsáveis da transmissão.
“Damos as boas-vindas a qualquer estudo que pretenda lançar luz sobre a síndroma do coronavirus, mas o que este estudo sugere é que o coronavírus ou um vírus semelhante infetou uma população de camelos e eles estão a produzir anticorpos”, explicou o porta-voz da OMS Tarik Jasarevic.
O representante disse que primeiro é necessário assegurar que este coronavírus é o mesmo dos humanos para o que será necessário encontrar o próprio vírus e não só os anticorpos.
“Este seria o primeiro passo a seguir para se comprovar que realmente se trata da mesma doença. Além disso, o estudo não dá evidências da forma de transmissão dos humanos”, acrescentou.
O porta-voz lembrou que até agora só há provas de contágio entre humanos e que “a maioria das pessoas infetadas sem terem contacto com outra pessoa doente também não estiveram em contacto com estes animais”.
Considerou que o estudo fornece uma pista sobre a direção a seguir nas investigações, mas não demonstra qual a origem do vírus nem o tipo de exposição que favorece o contágio.
O MERS fez a sua primeira vítima na Arábia Saudita em junho de 2012 e desde então foram registadas 46 mortes, de entre 94 casos confirmados, a maioria na Arábia Saudita.
Os restantes casos afetaram pessoas que viajaram para o Médio Oriente.
Os peritos tentam entender as características deste vírus, que não se espalha rapidamente, mas é mortal em mais de metade dos casos.