Os medicamentos para tratamento de perturbações psiquiátricas podem apresentar menos benefícios do que o esperado e ter consequências negativas na saúde do doente. A conclusão é do dinamarquês Peter Gøtzsche, director do Nordic Cochrane Centre, em Copenhaga, que defende que os benefícios para a saúde não são “suficientes” para justificar a morte de mais de um milhão de habitantes do Ocidente, todos os anos, acima dos 65 anos.
O artigo escrito pelo especialista foi publicado na British Medical Journal e defende que as análises ao consumo destes medicamentos não avaliam as consequências da toma de várias substâncias ao mesmo tempo e que muitas das mortes relacionadas com estes casos não são reportadas. Peter Gøtzsche acredita que o número de suicídios é 15 vezes maior que aquele que é conhecido.
O especialista destaca o efeito de três tipos de medicamentos: antipsicóticos (efeitos sedativos, inibem as funções psicomotoras), benzodiazepinas (ansiolíticos, tranquilizantes) e antidepressivos (para a inibição de sintomas da síndrome depressiva). Estes tipos de medicamentos são responsáveis, na opinião do investigador, por mais de 3600 mortes por ano na Dinamarca. Gøtzsche sugere que nos Estados Unidos e na União Europeia, o cenário possa chegar às 539 mil mortes anuais como consequência deste tipo de medicação.
Quando estudou este tipo de efeitos nos seus pacientes com demência, caracterizados por tomarem menos medicação que os utentes com outras patologias psiquiátricas, o especialista concluiu que a taxa de mortalidade corresponde apenas a mais 1% do que a taxa verificada nos que tomam placebos.
No artigo publicado na revista científica, o autor defende a possibilidade de acabar com a administração deste tipo de medicamentos, sem correr o risco de causar danos à saúde dos doentes. Gøtzsche acredita que a utilização de apenas uma parte dos antipsicóticos e das benzodiazepinas atualmente administrados (suspendendo antidepressivos, medicamentos para o tratamento do défice de atenção e da hiperactividade, e da demência) podem levar a “populações mais saudáveis e com maior longevidade. Porque os medicamentos psicotrópicos são bastante prejudiciais quando utilizados a longo prazo, eles deviam ser exclusivamente utilizados em situações extremas, e sempre com um plano rigoroso que defina o fim da toma.”
Um em cada cinco portugueses sofre de perturbações mentais, o que levou o estudo “Portugal – Saúde Mental em números – 2014”, apresentado no final do ano passado, a concluir que Portugal é o país da Europa com o maior consumo de ansiolíticos, sedativos e medicamentos hipnóticos. Destas substâncias fazem parte componentes das benzodiazepinas abordadas no estudo do investigador dinamarquês. Segundo dados da consultora IMS Health, divulgados pelo Diário de Notícias no mês passado, os portugueses compram cerca de 23 mil caixas de antidepressivos por dia.