A capital da Lituânia poderia continuar a passar despercebida, não fosse uma iniciativa marota virar as regras do jogo e adotar uma abordagem mais sexy para trazer mais visitantes à cidade. Sexy? Isso. O Turismo do país báltico não se deixou perturbar pela chuva de críticas que se seguiu ao lançamento da polémica campanha publicitária destinada a atrair milenares além fronteiras como abelhas na direção de um precioso néctar.
Nada melhor do que um simples slogan para chamar a atenção para a imagem: “Ninguém sabe onde é mas quando se encontra é fantástico”. Exatamente como sucede com algumas zonas escondidas do corpo feminino e que tanto prazer podem dar.
O que vemos: a fotografia de uma mulher deitada, olhos fechados, aparentemente entregue a momentos de êxtase, enquanto agarra um lençol onde se vê um mapa e, claro, a mão dela sobre… Vilnius. No vídeo, com a duração de alguns segundos, em câmara lenta, um jovem abre a boca e lança um suspiro de entrega diante de um monumento, sugerindo desse modo um discreto mas inequívoco orgasmo. E foi assim que, apresentada como “o ponto G da Europa” a Vilniusgspot se tornou viral, na Europa e mais além.
Num país com cerca de três milhões de habitantes, uma forte presença da igreja católica e prestes a receber a visita do Papa Francisco, era esperado que houvesse uma reação de desagrado inicial: haveria mesmo necessidade de fazer isto? O sucesso da campanha indica que sim e até teve um bónus: conseguiu despertar a atenção dos media e merecer destaque na CNN.
Faça você mesmo… o seu mapa de prazer
Até então, a Lituânia e a sua capital situavam-se no top 3 dos destinos da União Europeia para férias com baixo orçamento e festas de solteiros – juntamente com Riga, na Letónia, e Tallinn, na Estónia – mas depois da picante campanha de comunicação os visitantes começaram a chegar aos magotes, seduzidos pelo material recebido através de partilhas nas redes sociais e após feito o teste, que adota a lógica das apps de encontros, tipo Tinder. Entra-se no site sem perceber bem ao que se vai, mas com curiosidade: “Vamos saber um pouco mais de si antes de ir ao que interessa” é a proposta inicial.
Os preliminares consistem num curto questionário com afirmações que se prestam a leituras marotas – “nunca acabo até alcançar o pico mais alto” ou “não existe algo como língua a mais” – e, após assinalar um ponto entre o “concordo” e o “discordo” para todas elas, passa-se aos “spots” de prazer: uma sequência de cartas com foto e referência do local (bar, restaurante, loja, tour de bicicleta, parques e outras atrações) para selecionar (deslizar para a direita) ou descartar (deslizar para a esquerda).
Percorrida a sequência – idêntica à de passear pelos perfis dos candidatos numa app de encontros – para receber sugestões arrumadas por categorias divertidas, do tipo “vá pela sua língua” (sugestões para comer) ou “faça-o às escuras” (vida noturna). Assim se chega ao mapa e ao plano da viagem, com opções extra em função do jogo interativo Quem não estiver no espírito da coisa, pode saltar os preliminares e navegar no site à descoberta dos prazeres da capital lituana. feito antes. Queira-se, ou não, admiti-lo, a experiência de gamificação surte efeito e fica-se com uma ideia das oportunidades que a cidade oferece e do plano de viagem desenhado função das preferências de cada um.
De norte discreto a “spot” popular
O Papa chegou e a campanha não acabou. Apesar das vozes contra, os anúncios não foram cancelados pela agência Go Vilnius. No Reino Unido que, a par da Alemanha, era um dos principais mercados turísticos da cidade báltica, as autoridades não levantaram objeções, colocando a questão ao nível dos gostos: discutem-se mas não se proíbem. No ano passado, o arcebispo Gintaras Grusas lamentou publicamente a conotação da cidade com o turismo sexual e a exploração da sexualidade das mulheres e um antigo presidente da autarquia, Arturas Zuokas, chegou a condenar as referências sexistas de um tipo de marketing que, defendia, há muito não se usava em campanhas institucionais.
À CNN, a agência confirmou que valeu a pena usar uma linguagem fora da caixa para renovar a imagem da cidade e atrair visitantes: o projeto foi premiado pela International Travel and Tourism Awards e o objetivo inicial foi alcançado e, até, superado. Vilnius entrou no mapa mental dos amantes de viagens, com destaque para a geração dos milenares, que parece ter captado bem a mensagem ao ponto de passá-la boca a boca: pode não se conhecer, mas se lá entrar vai gostar e querer descobrir mais.
Os dados do departamento de estatísticas do País permitem apurar que, até meio do ano passado, o número de visitantes aumentou 7,5% e, um ano depois, cresceu 12,55%. O aumento da procura traduziu-se no número de noites em instalações hoteleiras (9,23%). Quase 80% dos turistas eram de outros países, com destaque para as subidas das nacionalidades francesa (34,48%), ucraniana (24,26%) e americana (14,91%), face ao ano anterior.
Com resultados destes, não vão faltar interessados em dinamizar o turismo na sua região valendo-se de estratégias inspiradas neste modelo publicitário.