Uma carta aberta da associação Terra Maronesa ao reitor da Universidade de Coimbra, devido à sua decisão de banir, alegadamente por motivos ambientais, a carne de vaca das cantinas universitárias, sublinha que não se pode pôr toda a produção no mesmo saco. “Os novilhos engordados a milho e soja ou nas pastagens da América do Sul têm custos ambientais devastadores que (…) passam pela destruição da floresta tropical amazónica, a aplicação de quantidades maciças de fertilizantes fosfatados, e a emissão de CO2 de origem fóssil através do transporte de animais.”
A entidade sublinha que, pelo contrário, o gado maronês tem efeitos muito positivos em várias vertentes ambientais e de bem-estar animal. “Aqui, a maior parte dos alimentos animais é gerado no monte ou nos lameiros, um habitat Rede Natura 2000. A substituição de ração pela forragem reduz o consumo de combustíveis fósseis por unidade de produto, e deprime a expansão da vegetação arbustiva e a acumulação de combustíveis no monte. Em contrapartida, a vegetação responde com uma maior produtividade primária, predominantemente constituída por plantas herbáceas palatáveis. Os antibióticos e as contas de veterinário foram praticamente excluídos do sistema.”
A Terra Maronesa explica ainda que as “vacas vivem permanentemente, ou quase, ao ar livre”. “Em poucos anos reaprenderam a defender-se do lobo, a escolher os rebentos mais nutritivos da carqueja e do tojo e a abrigarem-se das intempéries. Sobem, sozinhas, ao planalto no Verão, e descem ao vale no Inverno. Boa parte são cobertas, parem e amamentam na montanha sem a intervenção do Homem. Organizam-se em grupos de defesa mútua, sob a liderança de uma vaca alfa. E os vitelos socializam em creches e desde cedo aprendem com as mães a adotar comportamentos defensivos, a cooperar e a alimentar-se.”
Decorrente da produção de vaca maronesa, acrescenta a carta, há hoje mais criadores na serra, com vantagens também ao nível da prevenção dos incêndios. “Os nossos criadores são agora mais eficientes e têm mais tempo livre. Estão cientes dos riscos ecológicos representados pelos fogos severos que martirizaram a montanha e as suas pastagens nas últimas décadas, e disponíveis para aderir às técnicas de fogo controlado. Sabemos hoje que os fogos severos mineralizam (queimam) a matéria orgânica do solo com emissões que podem ultrapassar as 60 toneladas de CO2/hectare. E uma pastagem de montanha que tenha como ponto de partida um solo degradado pelo fogo fixa ainda mais carbono que o padrão de 6,5 toneladas de CO2 por hectare e por ano de uma pastagem semeada em solos devassados pela cerealicultura. Graças à pastorícia extensiva, o fogo deixou de ser uma ameaça e converteu-se num instrumento de gestão.”
A associação critica a contribuição do reitor para “a desinformação da opinião pública com consequências ecológicas e económicas potencialmente perversas”. E termina a mensagem apelando a que, em vez de excluir a carne bovina, se integre o consumo de carne maronesa nas cantinas. “Desfrutar de um prato de carne maronesa, sentados à mesa com colegas e amigos, a recompor dos esforços que o estudo implica, é uma forma simples e saborosa dos alunos da Universidade de Coimbra contribuírem para um ambiente melhor, que afinal é o seu habitat.”