A dieta de um inglês de 17 anos resultou numa série de deficiências vitamínicas, que por sua vez, contribuíram para o desenvolvimento de uma doença chamada ambliopia tóxica (uma disfunção do nervo ótico causada pela falta de nutrientes necessários ao seu bom funcionamento, em especial as vitaminas B1 e B12). Caso não seja diagnosticada a tempo pode provocar cegueira. Além disso, o paciente, não identificado, residente em Bristol, na Inglaterra, desenvolveu ainda surdez e problemas ósseos.
Esta é uma condição comummente observada em crianças de países subdesenvolvidos, sendo que o seu surgimento por causas puramente dietéticas é muito raro no mundo ocidental.
Segundo o relatório, desde a escola primária que o jovem sofria de um distúrbio alimentar raro chamado Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), que prevenia que consumisse certos alimentos. Este é um problema que costuma surgir na infância e tende a desaparecer com a idade, mas que por vezes pode manter-se até à idade adulta. Caracteriza-se por um aumento da sensibilidade extrema ao sabor, textura, cheiro ou aparência de certos alimentos. No caso deste jovem, a sensibilidade desenvolveu-se à “textura” de frutas e vegetais.
Denize Atan, coautora do relatório e médica do jovem, relata a falta de conhecimento entre profissionais da saúde da relação entre problemas alimentares e oculares. “A ligação entre má nutrição e visão é conhecida há algum tempo, pelo menos entre especialistas em neuro-oftalmologia. O problema é que a mentalização entre outros profissionais da saúde não é tão alta”, diz.
Um estudo anterior feito pela Universidade de São Paulo a 19 países da União Europeia revelou que as famílias do Reino Unido compram mais comida ultraprocessada que qualquer outro país da Europa, e que esta compõe 50,7% da dieta britânica.
O adolescente, que come batatas fritas todos os dias, foi pela primeira vez ao médico aos 14 anos de idade, com queixas de cansaço. Análises ao sangue revelaram uma deficiência de vitamina B12, à qual foram receitadas injeções de vitamina. Um ano depois, a sua audição começou a deteriorar-se, seguida da visão. Apesar disso, não foram detetados quaisquer danos estruturais nos ouvidos do jovem.
Passados dois anos, a sua acuidade visual era de 20/200 de acordo com a tabela de Snellen, o que legalmente equivale a ser cego. Por fim, já aos 17 anos, o jovem veio também a sofrer de insuficiência de cobre e de vitamina D no sangue, assim como de uma baixa densidade mineral nos ossos. Só então foi diagnosticado com ambliopia tóxica.
Atan considera que, embora a visão do jovem tenha estabilizado, o seu campo de visão sofreu danos irreversíveis. A insuficiência de vitamina B e de cobre no sangue “contribuíram provavelmente para a perda de visão e de audição do paciente”, considera a médica, enquanto que a baixa densidade óssea pode ser explicada pelo consumo insuficiente de alimentos ricos em vitamina D, como peixes gordos, queijo e ovos.
A mãe do jovem, que não quis ser identificada, disse que a doença “devastou a sua vida”, ao obrigar o jovem a desistir da faculdade e a própria mãe a desempregar-se para poder cuidar dele. No entanto, conta, a dieta do jovem continua a ser a mesma.