Criticar regularmente o parceiro chegou a ser identificado como um dos principais antecedentes do divórcio. De acordo com o casal de investigadores John e Julie Gottman, a crítica constante não afeta apenas pessoas em união de facto, mas também casais de namorados.
É claro que ninguém deve simplesmente ignorar os comportamentos ou qualidades do parceiro de que não gosta, e é inevitável que, de tempo a tempo, precise de falar e de se queixar. Mas a forma como escolhe fazê-lo é que está no cerne da questão.
Esta atitude de crítica define-se como a expressão de desaprovação de algo ou alguém com base no que consideramos ser falhas ou erros, e normalmente é apontada como uma falha intrínseca, de caráter. Face a um cenário de desarrumação, por exemplo, um parceiro crítico diria “és um desarrumado, não tens consideração nenhuma por mim”, enquanto poderia expressar o mesmo descontentamento de uma forma saudável, como “Sinto-me mal com toda esta desarrumação, podemos fazer um esforço para manter a casa arrumada?”.
De acordo com o especialista em relações Kyle Benson, a crítica é uma forma de autoproteção. Atacar ou culpar o companheiro deixa-nos numa posição muito menos vulnerável do que revelarmos aquilo que precisamos que ele faça. “É muito mais fácil apontar o dedo ao nosso parceiro e dizer-lhe que são eles que têm problemas do que baixar o nosso escudo de crítica e dizer ‘as minhas necessidades não estão a ser satisfeitas, ajuda-me’”, escreve o especialista no seu blogue pessoal.
Mas porque é a crítica numa relação tão destrutiva, e de que formas podemos evitá-la? A diferença entre uma critica construtiva e uma destrutiva assenta principalmente na forma como é expressada: as frases que focam o outro como raiz do problema, como “tu nunca fazes…” ou “tu és sempre…” são exemplos de críticas destrutivas e tóxicas para a relação.
O truque consiste em focar as críticas no comportamento e não na pessoa. Podemos, desta forma, dizer ao outro o que pensamos que está errado sem o criticarmos diretamente. A crítica destrutiva acaba por não ter o efeito desejado, pois a mensagem fica diluída na sensação de ataque que o parceiro sente.
Quais os efeitos da crítica permanente na relação?
Um dos efeitos do ato de criticar é a destruição da autoestima. Quem já esteve no lado do recetor, sabe que as críticas destrutivas magoam. Quando se tornam habituais, abalam a nossa confiança e chegam a fazer-nos questionar a nossa habilidade de fazer as coisas bem. Mais, a crítica tende a colocar o crítico numa posição de superioridade face ao criticado.
Kurt Smith, especialista em aconselhamento amoroso de homens, acrescenta que “pode fazer-nos questionar o nosso valor e importância, especialmente quando parte de alguém que supostamente nos ama. Podemos começar a acreditar que, como aquela pessoa se preocupa connosco, o que ela diz deve ser verdade”.
Outra coisa que começa a decompor-se é a confiança no outro. “Críticas frequentes são sentidas como traição”, explica o psicólogo Steven Stosny. “Viola a promessa implícita na formação de laços de que a pessoa que amamos se preocupa connosco e nunca nos atacará intencionalmente”.
Com o tempo, as críticas vão aumentar a distância emocional entre os parceiros, e os sentimentos positivos da relação vão ser substituídos por ressentimento e hostilidade. Isto pode destruir a intimidade do casal, que começam a sentir-se cada vez menos amados e mais afastados.
Em vez de fazer o seu parceiro mudar de comportamento, a crítica incita à defesa do criticado. Quando alguém se sente atacado tende a elevar a guarda, o que faz com que não perceba a suposta mensagem a transmitir.
Criticar pode até ser uma técnica de manipulação por um parceiro abusivo. Numa relação emocionalmente abusiva, o abusador exerce uma série de técnicas manipulativas para manter a moral do parceiro em baixo e, assim, manter a superioridade e o controlo. Convém salientar, no entanto, que nem toda a gente que critica está a abusar do parceiro. Apenas quando a critica está na base da comunicação diária do casal é que convém estar alerta para esta possibilidade. Toda a gente se sente frustrada de tempo a tempo e, por vezes, acaba por criticar destrutivamente o parceiro quando, na verdade, não o pretendia fazer.
Como fazer críticas de forma construtiva?
Como diz o provérbio, “não é com vinagre que se apanham moscas”. As críticas construtivas baseiam-se no respeito pelo outro e focam as nossas necessidades, não as falhas do nosso parceiro.
O casal Gottman criou uma técnica de discussão apropriada para a construção de críticas construtivas. Experimente dizer o que o chateia através da frase “Eu sinto-me_______ acerca de _______, e preciso_______”. É importante que o primeiro espaço contenha um sentimento, aconselham Ellie Lisitsa do The Gottman Institute.
Mais, acrescenta o terapeuta de casais Zach Brittle, “a crítica é um desejo disfarçado. É uma expressão negativa de uma necessidade. E se tomasse responsabilidade por aquilo que realmente deseja para a relação? E se fosse dono do seu desejo e se comprometesse a articulá-lo como uma esperança positiva?”.
Conselhos para ambos os parceiros
Se é o critico da relação, tenha atenção. Normalmente as pessoas que mais criticam os outros são as que mais se criticam a si próprias. Às vezes nem reparam o quão críticas são do parceiro, porque estão habituadas a falar da mesma forma com elas próprias.
Stosny sugere um exercício prático para evitar a crítica destrutiva: escreva uma série de críticas que tenha feito ao seu parceiro e a si mesmo ao longo do tempo, grave-as num telefone ou gravador e oiça-as de volta. Ao ouvi-las de outra perspetiva conseguirá perceber o quão agressivas podem ser.
“Por fim, pense em como faria um pedido de comportamento a alguém que respeita e admira. É assim que deve fazer pedidos de comportamento ao seu parceiro”, acrescenta o psicólogo.
Se, por outro lado, é o criticado da relação, é perfeitamente normal sentir-se atacado pelas palavras do seu parceiro. Não sinta que deve minimizar a mágoa que sente, porque não deve. Tente apenas não descer ao nível do seu parceiro e criticá-lo de volta por algo que ele tenha feito. “Não traia a sua natureza ao tornar-se critico você mesmo”, explica Stosny. “Considere as críticas do seu parceiro como a sua falta de capacidade de autocontrolo”.
Embora não seja propriamente fácil no momento, quando for criticado tente não ser automaticamente defensivo e tentar perceber o que o seu parceiro quer pedir com aquela crítica. Quanto mais rápido perceber o que lhe está a ser pedido, refere Brittle, “mais rápido se pode reparar a relação”.