O hino Cara al Sol foi adotado em 1936 pelo partido de extrema-direita espanhol Falange Espanhola das Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista. Ao longo dos tempos, a música ganhou popularidade entre os grupos nacionalistas espanhóis e é frequentemente tocada em encontros ou comícios de extrema-direita. Este fim de semana, voltou a ser ouvida, desta vez, no regresso das touradas à ilha de Palma de Maiorca.
O governo regional das Ilhas Baleares proibiu a tourada em 2017, instituindo um formato de espetáculo no qual o animal não é ferido. De acordo com estas normas, o toureiro só poderia estar armado com a sua capa e era impedido de magoar o animal de qualquer forma. Além disso, o touro só poderia ficar na arena durante 10 minutos, e quaisquer danos físicos ou psicológicos causados ao animal implicariam uma multa que podia chegar aos 100 mil euros.
O ano passado, o Supremo Tribunal de Justiça inverteu a decisão, por considerar que o governo regional excedeu a sua autoridade ao proibir uma parte do “património cultural” da nação espanhola. O tribunal decidiu manter apenas a proibição do consumo de álcool no recinto e a restringir a entrada aos maiores de 18 anos.
Este fim de semana, o regresso das touradas a Maiorca atraiu cerca de 12 mil pessoas, incluindo o líder do partido de extrema-direita Vox, Jorge Campos, que marcou presença na praça de touros para mostrar o seu apoio, com uma bandeira espanhola nas costas. Nas redes sociais, Campos partilhou uma fotografia no local, com a legenda: “Viva a festa! Viva a Espanha!”.
No início da corrida, os apoiantes das touradas gritaram: “Liberdade!” e os altifalantes da praça de touros tocaram a música Viva Espanha e o hino de extrema-direita Cara al Sol. Os vídeos da interpretação deste tema espalharam-se pelas redes sociais, com muitos a pedirem uma investigação sobre uma “possível violação da Lei da Memória Histórica” e outros a afirmarem que se tratou de “uma ação sentida de saudação nazi”, com várias pessoas “a colocar as mãos no coração”.
Em Espanha, as touradas já foram proibidas noutras regiões, nomeadamente nas Ilhas Canárias, onde são ilegais desde a década de 1990, e na Catalunha, que as proibiu em 2010. De acordo com as estatísticas do governo, o número de touradas caiu de 3.651 em 2007 para 1.521 em 2018, embora tenha havido um pequeno aumento em Castilla-La Mancha, Valência, La Rioja e Navarra. Também em Palma de Maiorca, cerca de 400 manifestantes reuniram-se à porta da Praça de touros para defender a suspensão da corrida e gritar: “Não é arte, é tortura”.