A app de relacionamentos OkCupid criou, em 2014, uma nova opção de orientação sexual, a sapiossexualidade. Agora, a concorrente Sapio, foi mais longe, e tornou-se a única aplicação que junta casais com base na sua inteligência. O termo tornou-se tão popular que, só no ano passado, o OkCupid viu um aumento de 42% no número de pessoas que usa o termo na descrição do seu perfil.
Os sapiossexuais afirmam sentir-se mais atraídos pela inteligência das pessoas do que pela sua aparência, ou consideram a capacidade intelectual bastante excitante. Debby Herbenick, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Indiana (EUA), explica: “As pessoas que se identificam como sapiossexuais descrevem a inteligência como um fetiche ou uma perversão, outras dizem que se apaixonam pelo cérebro da outra pessoa”.”Na internet, tudo o que se tem [para atrair um parceiro] são as palavras. Assim, enquanto na vida real se pode ver como a pessoa interage com os outros, online só se mostram aquilo que se escreve”, observa a psicóloga, autora e orientadora sexual Liz Powell.
Kristin Tynski, CEO do Sapio, admitiu ao Huffington Post que “para muitos, definir-se como sapiossexual tornou-se [uma] afirmação contra o atual estado da cultura dos relacionamentos online e da sua superficialidade, onde a aparência é valorizada acima de tudo”.
A palavra foi usada, pela primeira vez, numa publicação do LiveJournal em 1998, por um utilizador conhecido como wolfieboy (rapaz lobo), e nasceu da sua frustração com a falta de palavras que se adequam às suas preferências sexuais. O termo só explodiu no início da década de 2010, por meio de quizzes online, acabando por se consolidar no léxico das apps de relacionamentos em 2014.
O problema é que o termo sapiossexual pode ter vários significados diferentes. A sapiossexualidade parece retratar o desejo por um parceiro com interesses iguais, opiniões opiniões idênticas, o mesmo nível de auto conhecimento e motivação, e educação também equivalente à sua. Os sapiossexuais falam ainda de uma aversão a todas as pessoas que consideram “burras” ou com “interesses mais limitados”.
Um estudo de 2018 tentou encontrar uma fórmula para determinar se a sapiossexualidade é realmente uma orientação sexual ou apenas um fetiche. Outra análise, já este ano, estudou o papel da inteligência na seleção de um parceiro. Mas ainda não há evidências suficientes para sustentar ou desmascarar a sua legitimidade. “Acho as pessoas burras cansativas, e pergunto-me como é que elas sobrevivem”, afirma Roxxanne Miller, uma sapiossexual assumida, em declarações ao Mashable.
“Para mim, eu diria que é muito mais uma questão de consciência e de ser emocionalmente inteligente. Eu gosto de alguém que utiliza o seu tempo para melhorar intelectualmente, para aprender mais sobre as pessoas e o mundo, em vez de ficar preso na sua própria bolha. Acho que é uma sede de informação que me excita”, conta Jen Kaarlo, também sapiosexual, ao mesmo site.
O professor e investigador em sexualidade da Western Sydney University, Peter Jonason duvida que a sapiossexualidade seja uma orientação legítima porque não considera os outros fatores fundamentais na escolha de um parceiro. No entanto, independentemente de ser uma orientação ou apenas uma moda, teve uma clara utilidade para várias pessoas com dificuldade em expressar-se. Segundo os especialistas, o aparecimento do termo destaca um problema no modo como nos estamos a relacionar: estamos a confundir o desejo de estabelecer uma ligação séria e duradoura com alguém com uma nova orientação sexual.