Depois da tragédia nuclear de Chernobyl, em 1986, um grupo de cinco países criou uma rede de postos de monitorização da radiação para detetar acidentes deste tipo e alertar o público. À rede, batizada como Ro5, composta inicialmente pela Finlândia, Suécia, República Federal Alemã, Dinamarca e Noruega, foram-se juntando depois, ao longo dos anos cientistas de outros países.
Foi esta equipa que, há dois anos, começou a detetar níveis acima do normal de ruténio 106 – não eram valores suficientemente altos para serem considerados perigosos, mas a área em que foram detetados era tão alargada que deixou os cientistas a acreditar que algo pouco usual tinha acontecido.
Uma das suspeitas era a de um acidente nuclear na Rússia, mas as autoridades do país sempre negaram a possibilidade, explicando que, em vez disso, os níveis de ruténio detetados resultavam da desintegração de um satélite.
Até hoje, no entanto, esta possibilidade não convenceu os investigadores do Ro5, que agora avançam uma nova explicação para as estranhas leituras de 2017, num estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.
A equipa de 69 cientistas acredita ter encontrado provas que sugerem fortemente que a radioatividade observada tinha origem numa central nuclear russa na região dos Urais, provavelmente em Majak. Os investigadores, que combinaram e compilaram 1100 leituras atmosférias e 200 leituras do solo, afastaram a hipótese de a radioatividade ser proveniente de um satélite e falam mesmo numa libertação de 106Ru sem precedentes. Sobrepostos a um mapa, os dados recolhidos sugerem que o mais provável é que tenha havido um acidente nuclear de grandes dimensões não reportado.