A revolução da tecnologia móvel como a conhecemos é algo deste século e oferece aos pais e educadores cada vez mais desafios. Muitos de nós sentimos que não estamos a conseguir corresponder às expetativas, seja no trabalho, com as crianças, com os parceiros e gerir a atenção que damos a cada um – e todos estes capítulos incluem os nossos dispositivos digitais. Mas quando se trata dos nossos filhos, há cuidados que não devemos esquecer, insiste a pediatra Jenny Radesky, citada pela rádio americana NPR, e considerada uma das investigadoras de topo a nível mundial dos efeitos das tecnologias nas crianças.
Uma das regras que recomenda é – e parece mais fácil do que parece – pousá-lo quando estiver com eles. Se a maioria de nós recusaria que um membro da família se sentasse à mesa de auriculares, então também não faz qualquer sentido que tenha o telemóvel sempre à mão. Seja quem for. Claro que há exceções e situações de urgência. Mas resuma-as a isso.
Segundo um estudo conduzido por Radesky, os pais de crianças pequenas pegam nos seus telefones em média quase 70 vezes por dia – embora a maioria deles tenha subestimado a frequência com que o fizeram ou mesmo o tempo que perderam com isso.
Além disso, se olhar para o telefone é em parte um hábito inconsciente, como sugere também o estudo de Radesky, saiba que pode também ser perigoso. E em pelo menos duas situações pode ser uma questão de vida ou morte: seja quando está a guiar ou na piscina.
A recomendação seguinte é para parar de usar o telemóvel como chupeta, para si ou para os seus filhos. Parece que quanto mais os miúdos reclamam de uma situação, mais os pais stressam – e quanto mais stressados ficam mais recorrem aos ecrãs como distração. Para todos. Claro que depois quando lhes tira o telefone o assunto continua lá por resolver.
É ainda uma ideia comum a muitos estudiosos do uso e abuso dos ecrãs que mantê-los fora da vista é mantê-los fora da mente. Por exemplo, crie uma zona de carregamentos móveis numa zona neutra da casa, junto à porta de entrada, por exemplo. E deixe-o lá, sobretudo nos momentos de stress, como é muitas vezes a rotina da manhã ou da noite.
Agora, como a vida não é perfeita e, às vezes, precisamos estar em dois lugares ao mesmo tempo, há forma de usar o smartphone à frente deles sem passar a mensagem errada.
A saber: consulte o telefone nos momentos em que eles estão envolvidos com outras coisas.
Pode ainda optar por lhes relatar o que está a fazer: “Vamos verificar a meteorologia para amanhã e ver o que deves usar para a escola”. Ou “Vamos ligar ao pai/mãe e pedir-lhe para trazer leite quando sair do trabalho e vier para casa”.
Se já tem o hábito de usar o tablet para acalmar a criança, faça então outra experiência, como escolher uma faixa de vídeo ou áudio que ensine técnicas calmantes.
Depois, antes de publicar uma foto acompanhada de uma história supostamente querida sobre os seus filhos nas redes sociais, pense duas vezes. Se possível, pergunte-lhes primeiro. A questão do ‘sharenting’ – em que nos esquecemos do seu direito à privacidade e deixamos prevalecer o nosso interesse em partilhar histórias – está na ordem do dia. Já tudo o que permita identificá-los do outro lado de um ecrã (rosto, nome, aniversário, morada…) está claramente fora de questão, certo? É que isso pode expô-los a intermediários de dados, que criam perfis e os vendem para profissionais de marketing; ou para hackers, que podem criar contas fraudulentas e deixá-los numa situação complicada ainda antes de entrarem para a escola.
Além disso, não use tecnologia para perseguir seus filhos. Apps como o Find My iPhone permitem-nos saber – ou melhor, ver – onde nossos filhos estão. Mas deveríamos fazê-lo? Para os especialistas, a resposta certa é “não” e não têm qualquer dúvida sobre as razões para isso: “Quando nossos filhos se sentem confiáveis, geralmente tomam decisões melhores do que quando não o fazem.”