“O que vimos foi espantoso”. Mas o espanto a que se refere Vladimir Romanovsky, professor de geofísica na Universidade do Alasca Fairbanks, não é positivo – a equipa de investigadores ficou boquiaberta perante a velocidade a que uma sucessão de verões mais quentes do que o habitual desestabilizou as camadas superiores dos blocos de gelo subterrâneos que existem há milénios. “É uma indicação de que o clima está agora mais quente do que em qualquer outra altura dos últmos 5 mil ou mais anos”, garante o especialista.
Os resultados da análise dos dados recolhidos na última expedição desta equipa foram publicados na última semana no Geophysical Research Letters e estão a ser encarados com mais um sinal claro de que estamos perante uma emergência climática.
Os investigadores usaram um avião modificado para chegar a locais excecionalmente remotos, incluindo uma base de radares do tempo da Guerra Fria, a mais de 300 quilómetros do local habitado mais próximo.
Romanovsky e os colegas depararam-se com uma paisagem “irreconhecível” face ao que tinham visto nas primeiras expedições, há cerca de uma década, a ponto de levar o cientista a dizer que a cena lhe fez lembrar o resultado de um bombardeamento.
A estabilidade do permafrost é agora a principal preocupação dos investigadores, uma vez que um derretimento rápido pode levar à libertação de grandes quantidades de gases com efeito de estufa, criando um ciclo capaz de fazer as temperaturas subir ainda mais depressa.
“O degelo do permafrost é um dos pontos críticos da rutura climática e está a acontecer diante dos nossos olhos”, alerta Jennifer Morgan, diretora executiva da Greenpeace Internacional. “Este degelo prematuro é outro sinal de que temos de descarbonizar as nossas economias e é já”.