Segundo as conclusões do tribunal independente da coligação internacional contra o abuso de transplante na China (Etac), o país continua a executar muitos prisioneiros e a traficar os seus órgãos, nomeadamente presos políticos de minorias religiosas.
O tribunal considera que os tempos de espera para os transplantes oferecidos pelos hospitais na China são “estranhamente” baixos, muitas vezes apenas algumas semanas, o que levanta suspeitas de que a prática continue a ser recorrente. Além disso, investigadores enviados a hospitais chineses foram informados, no passado, de que os dadores de alguns dos órgãos transplantados eram membros do grupo Falun Gong.
O presidente do tribunal, Geoffrey Nice QC, defende que era “certo que os Falun Gong eram uma fonte, e provavelmente a principal fonte, para colheita forçada de órgãos”. Os Falun Gong são uma minoria religiosa perseguida pelo governo comunista desde 1999, depois de terem atraído dezenas de milhões de seguidores e passarem, por isso, a ser vistos como uma ameaça para o partido.
“A conclusão mostra que muitas pessoas morreram indescritivelmente sem razão, que mais podem vir a sofrer de forma semelhante e que todos nós vivemos num planeta onde a maldade pode ser encontrada no poder daqueles, que por enquanto, se encontram na administração de um país com uma das civilizações mais antigas conhecidas pelo homem moderno” acrescentou.
Segundo o mesmo, não existem “provas de que a prática tenha sido interrompida e o tribunal está convencido de que ela continua”, por isso, estão a ser recolhidos testemunhos de especialistas na investigação do cumprimento dos direitos humanos e de médicos.
A coligação conseguiu ainda reunir testemunhos de ex-presidiários. É o caso de Jennifer Zeng, ativista e membro da comunidade Falun Gong, que esteve presa durante um ano num campo de trabalho feminino e, contou, na audiência, que era frequentemente submetida a exames médicos e análises ao sangue. “No dia em que fomos transferidos para o campo de trabalho, fomos levados para um centro médico onde passámos por exames físicos. Fomos interrogados sobre as doenças que tínhamos e eu disse-lhes que tinha hepatite”, “´da segunda vez, depois de cerca de um mês no campo, todos foram algemados, colocados numa carrinha e levados para um hospital enorme. Isto foi para um exame físico mais minucioso. Fizeram-nos radiografias. Na terceira vez, no campo, estiveram a tirar-nos sangue. Disseram-nos a todos para nos alinharmos no corredor e o teste foi feito”, explicou em declarações ao The Guardian.
“Quando alguém desaparecia do acampamento, eu pensava que a pessoa tinha sido libertada e tinha ido para casa”, “agora temo que eles possam ter sido levados para um hospital para que os seus órgãos fossem removidos sem o seu consentimento e que depois tenham sido mortos no processo”, conta.
Em declarações ao The Guardian, a embaixada chinesa em Londres, afirma que a “21 de março de 2007, o conselho estadual chinês promulgou o regulamento sobre o transplante de órgãos humanos, que obriga que doação de órgãos humanos seja feita de forma voluntária e gratuita”, disse ainda que “o governo chinês segue sempre os princípios orientadores da Organização Mundial da Saúde relativamente ao transplante de órgãos humanos”, “reforçou a sua gestão de transplantes de órgãos nos últimos anos”, e que as acusações não passam de “rumores”.