Tudo começou depois de um utilizador do Twitter partilhar uma publicação do jornal The Times of India com a descrição “O que está errado nesta fotografia?”.
A imagem em questão tratava-se de uma montagem com todas as concorrentes da edição deste ano do famoso concurso de beleza na Índia.
A partilha desencadeou várias respostas com a maioria a fazer referência ao facto de todas as concorrentes parecerem muito semelhantes.
“Concorrentes do Miss Índia. Todos elas têm o mesmo cabelo, e a MESMA COR DE PELE, e eu vou arriscar um palpite de que a altura e peso também serão semelhantes. Lá se vai a história da Índia ser um país com ‘diversidade'”, respondeu uma das pessoas no Twitter.
“Têm a certeza que não é a mesma pessoa mas com roupas diferentes”, disse outro.
Até uma das concorrentes das edições anteriores quis participar na discussão: “Eu fui uma das três finalistas do ano passado e a rapariga que ganhou foi a mais clara. É mesmo assim lol”, escreveu Anshikaa Siingh.
Os concursos de beleza são extremamente populares na Índia, desde meados dos anos 90, e a organização deste tipo de eventos já foi acusada diversas vezes de preferência por modelos com tons de pele mais claros. Os institutos onde jovens aspirantes a miss treinam para participar nestes concursos são cada vez mais comuns e também tendem a preferir raparigas mais claras.
O país já elegeu várias misses famosas, como Aishwarya Rai, Sushmita Sen e Ms Chopra, as três brancas e vencedoras de títulos internacionais. Geralmente as misses avançam depois para uma carreira bastante lucrativa como atrizes em Bollywood, por isso, as modelos tendem a participar neste tipo de concursos com aspirações maiores do que o simples título de miss.
Desde 1970, quando o Fair and Lovely – o primeiro creme de beleza da Índia – foi introduzido, que os cosméticos para branquear a pele têm estado entre os mais vendidos no país e, ao longo dos anos, os principais atores e atrizes de Bollywood têm aparecido nas suas campanhas publicitárias. Disponíveis em creme ou gel, estes produtos prometem não só atingir um tom de pele mais claro, como são igualmente promovidos como um meio para conseguir um emprego, encontrar o amor, ou casar.
Nos últimos anos, várias campanhas como a “Dark is Beautiful” e a hashtag #UnfairAndLovely têm desafiado estes esteriótipos e apelado à celebração da pele mais escura.
Segundo os ativistas, a “superioridade” da pele clara é subtilmente, mas constantemente, reforçada e isso perpetua o preconceito social e fere as pessoas com pele mais escura que acabam por crescer com uma auto-estima mais baixa.
Várias modelos com cores de pele mais escurasgarantem não ter sido escolhidas para trabalhos devido ao seu tom de pele e, em 2014, o Advertising Standards Council of India (ASCI), um corpo autoregulador de meios publicitários, teve de emitir um conjunto de diretrizes proibindo os anúncios de retratar pessoas com pele mais escura como “pouco atraentes, infelizes, deprimidas ou preocupadas” ou como estando numa posição de desvantagem quando se tratava de “perspetivas de casamento, empregos ou promoções”.