A Spillers Records, em Cardiff, decidiu deixar de vender os álbuns de Morrissey depois deste ter apoiado publicamente o partido de extrema direita For Britain.
A decisão vem na sequência da participação do cantor num talk show americano, este mês, durante o qual usou um crachá com o logótipo do partido.
Morrissey lançou na última sexta-feira o seu novo álbum, que inclui covers de Joni Mitchell, Roy Orbison, Bob Dylan e convidados como Grizzy Bear, Broken Social Scene e alguns elementos dos Green Day.
Os cartazes nas estações de comboio a anunciar o novo disco também já foram removidos, depois de reclamações de utilizadores da ferrovia.
Anne Marie Waters, a líder do partido For Britain, que descreveu o Islão como “malévolo” e como “uma cultura que não se encaixa na nossa”, agradeceu esta semana o apoio de Morrisey: “Eu posso dizer que o tráfego do nosso site explodiu assim que saiu a história de que tinha usado o emblema”, e acrescenta, “espero encontrá-lo um dia”.
Não é a primeira vez que o antigo vocalista dos Smiths manifesta o seu apoio a um partido de extrema-direita. Morrissey também defendeu publicamente Tommy Robinson, fundador do partido de extrema-direita English Defense League, depois de este ter sido condenado por desrespeito a ordens do tribunal, dizendo que “é muito óbvio que o partido Trabalhista e o partido Conservador não acreditam na liberdade de expressão… Quer dizer, olhem para o tratamento chocante do Tommy Robinson”.
Para além disso, também descreveu a preparação de carne halal, como “cruel” e algo que “requer uma certificação que só pode ser dada por apoiantes do ISIS [o autoproclamado Estado Islâmico]”. A carne halal, isto é, a carne autorizada pelo Alcorão a ser consumida por muçulmanos, implica procedimentos específicos para a criação e matança dos animais, de modo a que o sofrimento seja minimizado.
Em 2007, em declarações para a revista NME, Morrisey disse também que: “quanto maior o fluxo de entradas em Inglaterra , mais a identidade britânica desaparece… as portas de Inglaterra estão inundadas. O país está a ser deitado fora” e, em 2010, descreveu os chineses como uma “subespécie”.
Ashli Todd, dona da loja de música, admitiu que “só desejava ter tomado a decisão mais cedo”.
O cantor respondeu numa publicação com o título “Porque é assim que eu sou”, na sua página oficial no Facebook. Na mensagem começa por agradecer à BBC Radio 2 por continuar a apoiar o seu trabalho e lamenta a “interpretação distorcida da impressa do Reino Unido” daquilo que ele é e, afirma que a sua “posição é de esperança”, que “a marcha para trás acabou, e a vida começou de novo”.
“Com a voz estendida ao ponto de rutura, apelo à prosperidade da liberdade de expressão; à erradicação do controlo totalitário; apelo à diversidade de opiniões; apelo à abolição total do matadouro; apelo à paz, acima de tudo; apelo à sociedade civil; Apelo a um fim até agora incognoscível das brutalidades”. Pede, aind,a o fim da “Grã-Bretanha soviética” as “orações não aos deuses, mas às forças”, e que acabe a “desonestidade mediática. A publicação do artista inglês termina com o recado: “Ignora o olhar frio do fascismo, a tua vida é Arte”.