“A poluição do ar pode ser extremamente prejudicial, mesmo a nível crónico, afetando potencialmente todos os órgãos do corpo”, alerta o Fórum Internacional de Sociedades Respiratórias. “Partículas ultrafinas passam através dos pulmões, são prontamente captadas pelas células e transportadas pela corrente sanguínea até expor praticamente todas as células do corpo”, pode ler-se no relatório de duas páginas, publicado no jornal americano Chest.
Ao nível cerebral, a poluição atmosférica pode ser responsável por AVCs, demência, redução das capacidades cognitivas e até problemas de visão. O ar poluído afeta claramente todo o sistema respiratório, podendo causar: laringite crónica, asma e cancro pulmonar. A partir dos pulmões, entra na circulação sanguínea, que o transporta até ao coração, potenciando doenças cardíacas ou diabetes, até aos rins, aumentando o risco de cancro, e até à bexiga podendo igualmente provocar o aparecimento de células cancerígenas nesse mesmo órgão. O fígado e os intestinos também não escapam e podem vir a sofrer da Doença de Crohn ou de Fígado Gordo. Para além da poluição reduzir a fertilidade, se estiver grávida, ela pode ainda provocar abortos espontâneos, problemas na saúde do feto e o nascimento de bebés abaixo do percentil.
A poluição do ar que respiramos está ainda a estragar a nossa pele, deixando-a mais envelhecida e provocando vermelhidão, a enfraquecer os nossos ossos, a perturbar o nosso sono e a afetar o funcionamento dos nossos genes.
Segundo Dean Schraufnagel, líder da investigação e professor da Universidade de Illinois em Chicago, “as células imunes pensam que ela [partícula da poluição] é uma bactéria, vão atrás dela e tentam matá-la liberando enzimas e ácidos”. “Essas proteínas inflamatórias espalham-se pelo corpo, afetando o cérebro, os rins, o pâncreas e assim por diante. Em termos de evolução, o corpo evoluiu para se defender contra infeções, não contra a poluição”, acrescenta.
Dados da Organização Mundial da Saúde concluem que a poluição do ar é uma “emergência de saúde pública”, afetando mais de 90% da população mundial. Novas análises indicam que 8,8 milhões de mortes precoces a cada ano – o dobro das estimativas anteriores – são uma consequência do ar poluído, tornando o assim mais mortífero do que o tabagismo.
Maria Neira, diretora de saúde pública e ambiental da OMS, espera que muitas mais consequências da poluição do ar estejam ainda por revelar. “Em questões como a doença de Parkinson ou o autismo, para os quais existem algumas evidências, mas talvez não ligações muito fortes, essas provas estão a chegar agora”, afirma.