Um grupo de cientistas liderados por Nenad Sestan, da Faculdade de Medicina de Yale, conseguiu preservar e restaurar sinais de atividade nos cérebros de porcos, aos quais tinha sido cortada a cabeça quatro horas antes, mostrando que o processo da morte dos nerurónios pode estender-se durante mais tempo do que se pensava e não ser tão inevitável ou irreparável como até agora se acreditava.
Recorrendo a 32 cérebros de porcos de um matadouro, a equipa colocou-os em câmaras esféricas e injetou-os com nutrientes e outros produtos químicos protetores, usando bombas que imitam as batidas de um coração. Os mais que surpreendenteres resultados deste BrainEx, como o sistema ficou conhecido, foram publicados esta semana na Nature.
Antes de mais,o método permitiu preservar a arquitetura do cérebro, impedindo-o de se degradar, e restaurar o fluxo nos vasos sanguíneos, revelando-se sensível a fármacos que têm efeito dilatador. Isso, por sua vez, impediu que muitos neurónios e outras células morressem – restabelecendo-se, assim, a capacidade de consumir açúcar e oxigénio.
Não se julgue, no entanto, que a experiência pode alterar o conceito de morte cerebral – os bichos estavam em morte cerebral tanto no início como no fim da experiência, disse já Stephen Latham, o especialista em ética da Universidade de Yale, que acompanhou o trabalho daquela equipa, recusando que o BrainEx possa ser usado como uma câmara de ressurreição.
O potencial do estudo, esse, é outro: “Há um potencial enorme deste método para desenvolver tratamentos inovadores para pacientes com derrames ou outros tipos de lesões cerebrais, e há uma necessidade real para esses tipos de tratamentos”, explica Syd M Johnson à The Atlantic, especialista em neurologia e ética na Universidade do Michigan.
Além disso, acrescenta Yama Akbari, neurologista de cuidados intensivos da Universidade da Califórnia, pode, caso aplicado minutos após a morte, ajudar a manter os cérebros vivos e intactos enquanto os pacientes esperam para serem tratados. “É um importante marco histórico”, considera Akbari.