“Uma das palavras chave que utilizaram [para me ajudar na criação] foi ‘jornada’”, confessou Ramin Djawadi, compositor alemão-iraniano, ao site Mashable, quando lhe pediram para descrever a música de abertura da série. “O objetivo era estabelecer o espírito, o mistério, a aventura, a jornada e tudo o que isso implica”, explicou ainda o compositor à Variety. David Benioff e D. B. Weiss, os produtores da série, concederam ao compositor (tinha 37 anos quando a série estreou) uma grande liberdade criativa, contudo as diretrizes estavam bem definidas: “As personagens viajam e conhecem-se. Existem vários e complexos enredos por isso tudo se baseia na aventura, mistério e jornada. Foram essas as três palavras que usaram.”
Ramin Djawabi é um dos colaboradores mais regulares de Game of Thrones, estando envolvido na criação da banda sonora de todos os seus 67 episódios, incluindo nos seis episódios da última temporada, que irá estrear mundialmente no dia 14 de abril e em Portugal no dia 15, no canal SyFy.
A carreira do compositor começou como assistente do aclamado colega de profissão Hans Zimmer e, ao The Ringer, explicou como é que este início o ajudou a evoluir como profissional: “Aprendi muito com ele. Música à parte, a sua ética de trabalho, a maneira como estrutura e aborda os seus projetos é absolutamente incrível. (…) Existe tanta coisa para além da música que tive o prazer de aprender e de ver como ele faz.”
Até à estreia de A Guerra dos Tronos, mereciam destaque no currículo de Ramin a banda sonora do filme Homem de Ferro e a série Prison Break.
Como os dois produtores da série já conheciam o seu trabalho, contactaram o compositor umas semanas antes da estreia da série, mas numa atlura em que grande parte dos episódios já estavam gravados. Por isso, foi uma questão de ver os episódios e discutir com os seus criadores qual seria a melhor abordagem sonora a utilizar: “Eu estava a trabalhar no [primeiro] episódio e a primeira música que escrevi foi o tema dos Stark (uma das famílias da série e uma das protagonistas). O Benioff e o Weiss tinham muitas ideias de como queriam que a série soasse e queriam ouvir o que eu tinha para acrescentar. Nós tivemos uma boa química desde o início. Concordámos com praticamente tudo o que foi dito naquele quarto e foi a partir daí que comecei a escrever as músicas”.
Uma das únicas regras estabelecidas nestas reuniões, contou à Entertainment Weekly, é que não seria permitida a utilização de flautas na banda sonora: “Eles não queriam que dar uma sensação medieval porque era isso que as pessoas estavam à espera.”
Esta restrição, que o músico disse ter sido “uma benção”, impulsionou a sua criatividade e conduziu à decisão de utilizar o violoncelo como principal instrumento das suas composições: “Eu senti que ele podia ser o instrumento ideal para a série devido à sua versatilidade.” Este instrumento acabou por ser o condutor principal da icónica melodia da canção de abertura.
Algo que comoveu bastante o compositor foi a primeira vez que lhe enviaram um vídeo do Youtube de uma cover do tema de abertura da série: “Foi muito inspirador observar como a música estava a inspirar as pessoas.”
Desde que começou a trabalhar na banda sonora de Game of Thrones, a vida de Ramin Djawabi mudou completamente. Atualmente, envolvido, também, em projetos como a série (também da HBO) Westworld, o compositor nunca pensou que as músicas da série, nomeadamente, o tema de abertura, fossem atingir um sucesso tão grande. “Nunca tinha pensado nisso. Quando escrevo algo, eu nunca penso ‘esta melodia é mesmo boa’. Eu tento compor o melhor que sei e criar algo que goste. Essa sempre foi a minha regra pessoal, eu tenho que estar satisfeito com o meu próprio trabalho. Mas nunca penso, ‘as pessoas vão mesmo gostar disto (…).”
Apesar do discurso humilde, o compositor não deixa de mostrar o seu entusiasmo sempre que utiliza este tema na série: “Nós usamo-lo mais no final das temporadas, serve como uma espécie de climax para cada temporada. Não o utilizamos muitas vezes, por isso quando o usamos é sempre excitante.”
Quando questionado sobre como está a reagir ao final da série, Ramin não escondeu os seus sentimentos: “Por um lado, estou triste porque vou ter de deixar para trás todas estas melodias que se tornaram muito próximas de mim. (…) Mas por outro lado, já estava na altura de encerrar este período, avançar para outros projetos e ver o que o futuro nos reserva.”