Uma tempestade que não dá tréguas, uma escala prolongada, uma avaria de última hora, uma greve sem aviso, um vulcão que expele cinza e cobre o céu de negrume – como foi o caso do islandês Eyjafjallajökull, em 2010. Não faltam (maus) motivos para se ver o tempo a passar num terminal de aeroporto, numa espera interminável pelo voo que leva ao destino final. Depois de almoço ou ao cair da noite, surge o dilema: onde descansar ou dormir?
É certo e sabido que existem pessoas com a extraordinária capacidade (ou será dom?) de adormecerem em qualquer lado, sob as mais improváveis circunstâncias: sentadas ou mesmo no chão, nas posições mais incómodas, em salas iluminadas, com gente a passar e a conversar. Às outras, não havendo a possibilidade de procurar um hotel por perto, restava, até há pouco tempo, não pregar olho.
Isso está a mudar. Uma solução de recurso tem vindo a ganhar adeptos nos principais aeroportos do mundo. Na verdade, são já várias soluções distintas, embora com características comuns: oferecem privacidade e segurança, um mínimo de conforto e são menos onerosas do que um quarto de hotel, até porque podem reservar-se apenas por algumas horas. Chamam-lhes cápsulas (ou caixas) de sono: pequenos compartimentos cujo objetivo é ajudar os viajantes a repousarem num ambiente mais recatado.
O conceito já era popular em hotéis no Japão e está a ser adaptado aos aeroportos, em virtude do forte potencial do mercado – 10% dos mais de 8 mil milhões de passageiros anuais estão em trânsito para outro aeroporto e 2% são afetados por atrasos ou cancelamentos de voos. Daqui resulta um universo de quase mil milhões de possíveis clientes, sem contar com os que partem às primeiras horas da manhã e, por uma questão prática, preferem pernoitar no local.
Há opções para todos os gostos e carteiras. A cadeia japonesa 9 Horas Hotel, que opera em várias cidades do Japão, abriu uma das suas unidades no aeroporto de Narita, a 75 quilómetros de Tóquio. À entrada, os clientes recebem uma toalha de banho e outra de rosto, escova de dentes e roupa de dormir. Os homens seguem para um lado e as mulheres para o outro, uma vez que os dois balneários, com duche, casa de banho e cacifo, são comuns por cada género. Para dormir, os hóspedes entram num cubículo com pouco mais de um metro de largura e de altura por dois de comprimento. Ao longo de um corredor, os pequenos compartimentos alinham-se em duas fileiras, a de cima acessível através de três degraus. Preço: €12 das 9 às 18h e €39 a noite completa.
A finlandesa GoSleep é outra solução minimalista, sem direito a espaço próprio para cuidar da higiene, mas com uma presença mais alargada a nível mundial. Além de Helsínquia, esta espécie de “ovo gigante” equipa os aeroportos de Los Angeles, Pequim, Belo Horizonte, Amesterdão, Perth, Moscovo, Bombaim e, em breve, estará no JFK, de Nova Iorque. Trata-se de uma pequena cabine individual com uma cadeira reclinável, que pode ficar na horizontal e servir de cama. Depois, para ganhar privacidade e escurecer o ambiente, corre-se um género de persiana sobre todo o corpo e começa-se a contar carneiros. Por baixo, há um espaço para guardar a bagagem de mão e fichas USB para carregar baterias.
Para quem sofre de claustrofobia, o Izzzleep, na Cidade do México, não será a alternativa indicada. A cápsula é mais robusta, a lembrar uma nave dos filmes de ficção científica, mas a largura é a da cama e não dá para estar de pé. Como trunfos, disponibiliza um ecrã plano de TV e ar condicionado, incluídos no preço (€8/hora).
O Snoozecube, no Dubai, e o Napcab, em Munique e em Berlim, também oferecem estas duas comodidades, com a vantagem de serem compartimentos mais amplos, tanto em altura como em largura. O primeiro, decorado com pinturas rústicas, dá prioridade a crianças e idosos (€18/hora), enquanto o segundo conta com uma pequena mesa de trabalho e apresenta um ar mais futurista (a partir de €10/hora).
No Charles de Gaulle, em Paris, nos londrinos Heathrow e Gatwick ou no Schiphol, de Amesterdão, a cadeia Yotel vai ainda mais longe. Além de cápsulas individuais com casa de banho, incluindo chuveiro (€53 por 3h), há versões suite para famílias, com cama de casal e um beliche para duas crianças.
Já do outro lado do Atlântico, a americana Minute Suites fornece vários aeroportos com pequenas salas, equipadas com secretária, sofá-cama, minibar e Netflix (€136 por 8h). Uma opção ainda assim bastante modesta, quando comparada com o serviço de luxo criado no aeroporto de Los Angeles, onde o cliente entra no aeroporto por um acesso privado e é escoltado por funcionários da Private Suite até ao embarque, “sem ter de lidar com os paparazzi”. Pelo meio, pode aguardar o tempo necessário numa sala com sofás, TV, comida e bebidas, uma zona de recreio no exterior para crianças e vista privilegiada para a pista de aterragem. Custo: €3 000, mínimo. E pensar que a Metronap, uma cadeira com uma espécie de capacete gigante à volta da cabeça, desenhada para sestas no local de trabalho, esteve à experiência no JFK de Nova Iorque e não vingou, apesar do regime gratuito de “quem chega primeiro, serve-se”.