Em abril de 2018, arqueologistas descobriram no norte do Peru vestígios de um sacrificio em massa de crianças. Desde essa data foram encontrados 269 esqueletos de crianças com idades entre os 5 e os 14 anos e ainda os ossos de 260 lamas. Agora, num artigo publicado na revista ciêntifica PLOS One, os cientistas especulam que este massacre possa ter resultado do desespero para parar os efeitos do evento climatérico El Niño.
“O que parece ter acontecido em Huanchaquito-Las Llamas é um sacrifício para parar as chuvas torrenciais, inundações e deslizamentos de terra”, por volta do ano 1450, explica o antropologista John Verano.
Esta descoberta teve início em 2011, quando um homem chamado Michele Spano Pescara abordou o arqueólogo Gabriel Prieto, da Universidade Nacional de Trujillo, no Peru, dizendo que os seus filhos tinham encontrado ossos perto de sua casa. Quando chegaram ao local, Prieto, que liderou o estudo, ficou abismado: “Havia tantos restos humanos ainda completos e corpos em perfeito estado de conservação.”
O arqueólogo pediu ajuda à sua colega Katya Valladares, que descobriu um corte nos esternos de grande parte dos esqueletos das crianças, indicando que aquele local não era um cemitério, mas sim o local de um assassinato orquestrado.
Equipas de cientistas passaram os últimos meses, desde que a notícia foi publicada, pela primeira vez, na National Geographic, a tentar perceber o porquê deste sacrificio ter acontecido. Uma das principais pistas foi uma camada espessa de lama que se manteve preservada sob as areias onde as vítimas foram enterradas. Como a área costumava ser um deserto, esta camada indica que houve um período de chuvas intensas, como aqueles que acontecem durante o El Niño – os dilúvios resultantes destes acontecimentos teriam devastado civilização antiga de Chimú, na costa norte do Peru, arrastando colheitas, peixes e pessoas.
Especula-se que estas mortes tenham sido ordenadas por padres e líderes políticos, numa tentativa desesperada para acalmar os deuses de forma a atenuar as chuvas e salvar a tribo.
“A imagem que começa a surgir é que durante estas condições climatéricas severas o sacrifício de crianças tenha surgido como a melhor hipótese para comunicar com o sobrenatural”, explica Haagen Klaus bioarqueologista da Universidade George Mason na Virgínia, que não esteve envolvido na pesquisa, citado pelo New York Times.
“Possivelmente, estavam a oferecer aos deuses aquilo que tinham de mais importante na sua sociedade”, explicou Gabriel Pietro. “Os lamas também eram bastante importantes para estas pessoas e uma parte fundamental da sua economia, visto que eram os únicos animais de carga.”
Sabe-se que algumas culturas antigas, como os Maias, Aztecas ou os Incas, praticavam sacrifícios humanos, contudo sacrifícios de crianças raramente têm sido documentados.