O calendário chinês encerra com o signo do Javali, popularmente designado como Porco, e representa a capacidade de foco, a inteligência e a entrada num período de reflexão e análise, por se tratar do último signo do Zodíaco. Suzana Mendes, consultora de feng shui e astrologia chinesa, sintetiza assim as previsões deste ano: “É um momento de transição importante e sensível, o fechamento daquilo que se passou e oportuno para finalizar projetos”. Ou seja, em 2019, mais do que ansiar por novidades e ir à conquista do novo, a proposta é renovar a leitura dos acontecimentos: “Por exemplo, lidar com uma situação que dura há anos da mesma forma; o que pode trazer a mudança é a forma de responder de outro modo à mesma situação”.
Até 4 de fevereiro de 2020, o ano pauta-se pela energia do elemento Terra com aspeto de polaridade Yin. “Terra é o elemento de solidez, estabilidade, fertilidade e introspeção e as suas características principais são a receptividade, o cuidar e a manutenção do adquirido.” Na vida mundana e nos relacionamentos pessoais, isto traduz-se na procura de sustentabilidade, bem como “no desejo de isolar-se um pouco dos acontecimentos contínuos e repetitivos do dia a dia”. Na área financeira, “são preferíveis os investimentos mais sólidos, como os imóveis, face aos mais voláteis como a bolsa de valores” e na esfera profissional a tendência é para privilegiar vínculos face a propostas ocasionais. O mesmo pode verificar-se nos contactos diplomáticos e no campo amoroso, “mais conservadores do que antes”.
No cenário político, Suzana Mendes destaca as “medidas e leis direcionadas para a manutenção da ordem, assentes em crenças e valores mais rígidos”, em detrimento de conquistas recentes ou que não foram submetidas ao teste do tempo.
O que ainda há para fazer por cá
A semana de ouro para os chineses foi entre os dias 2 e 10 de fevereiro, mas as celebrações continuam praticamente até final do mês. Depois das festas organizadas pela Embaixada da República Popular da China em Portugal, no Porto, em Lisboa e no Algarve, com associações da comunidade chinesa, amanhã, dia 12, vai haver música, dança, poesia e artes marciais no Teatro Municipal de Vila do Conde, com um grupo artístico de Macau.
Este ano é mais especial do que os anteriores, “porque se comemoram 40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a China”, esclarece Y Ping Chow, da Liga Chineses em Portugal. A ocasião vai ser assinalada no próximo dia 18, com um jantar no Epic Sana Lisboa Hotel.
Na época do ano em que mais turistas chineses visitam o nosso país, a iniciativa “Golden Week”, na Avenida da Liberdade, teve por meta promover os produtos chineses nas lojas lusas e não faltaram restaurantes a organizar ementas especiais, “com produtos típicos e mais caros, como as massas de peixe e marisco”.
Em tempo de festa e de novos começos, “não podem faltar na mesa cantonesa os dumplings (massas recheadas de vários tipos) e os bolinhos de arroz cozinhados em vapor”. Aurora Chen, da Escola Chinesa de Lisboa, menciona ainda a importância da “cor vermelha, que simboliza a sorte e está presente na indumentária nova, nos envelopes vermelhos com dinheiro que os pais e avós oferecem às crianças e até os bolos doces são de feijão vermelho”. Há ainda a caligrafia com dois versos que expressam desejos exposta na entrada das habitações.
Entretanto, desde 19 de janeiro e até 23 de fevereiro, prosseguem as atividades da programação cultural do Museu do Oriente com enfoque no ano novo chinês e que vão desde os ateliers para bebés até às previsões astrológicas. “Temos tido muita adesão, com várias sessões esgotadas e que levou a criar novas datas”, afirma Margarida Mascarenhas, do serviço educativo da instituição. Parte do sucesso da iniciativa deveu-se “ao facto de as lendas e tradições serem dadas a conhecer um pouco antes das comemorações propriamente ditas”. Margarida refere-se não apenas aos rituais de preparação como as limpezas da casa, o nó chinês da boa sorte que simboliza a união e a colocação de mensagens nas janelas e portas, mas também às crenças associadas a esses rituais, mesmo se já não têm lugar na sociedade atual. É o caso da figura do deus da Cozinha, que “era removida e queimada para subisse ao céu e informasse a divindade Zhaojun sobre o comportamento da família, e não sem antes lhe passar um pouco de mel na boca, para dizer apenas coisas boas”.