Na cidade italiana de Cremona a ordem é para andar em bicos dos pés até 9 de fevereiro. E ninguém se importa com isso dado o motivo nobre deste pedido de silenciamento geral: gravar digitalmente o som de uma viola e violinos dos sécs. XVI e XVII.
Cremona, uma pequena cidade com cerca de 70 mil habitantes, é o berço dos violinos. Foi ali que nasceu e fez a sua famosíssima oficina Antonio Giacomo Stradivari (mais conhecido pelo seu nome em latim: Antonius Stradivarius), considerado o mestre dos violinos.
A autarquia cortou algumas ruas e uma praça central e pediu que os residentes continuassem com a sua vida normal, mas fazendo o mínimo de ruído possível enquanto a música dos violinos é gravada por vários técnicos no Museu do Violino. Neste local, 32 microfones de alta sensibilidade vão gravar milhares de notas tocadas por músicos numa sala onde até às lâmpadas estão desligadas para evitar qualquer tipo de som não desejável, por mais pequeno que seja.
Por isso, não é de estranhar o pedido da câmara local. Qualquer camião a passar ou o latido de um cão poderiam arruinar as gravações.
“Isto é a democratização da música. Os sons destes instrumentos têm estado reservados para uma pequena elite de espectadores de concertos, mas agora vão ficar disponíveis para o público em geral”, conta ao jornal Corriera della Sera, Leonardo Tedeschi, ex-dj e fundador da empresa envolvida no projeto.
Os instrumentos em questão são tão especiais que têm nomes, entre eles, a viola Stauffer (de 1615), o violino Príncipe Doria (1734) ou o violino Vesúvio (1727).
As gravações serão depois postas à disposição no Bank of Sound (uma base de dados musical).
“É um casamento entre o passado e o futuro para tornar imortais os sons únicos dos instrumentos feitos por Stradivari, Guarneri e Amati”, refere Mattia Bersani, da empresa Audiozone.